Os inspetores da Polícia Judiciária (PJ) poderão ser chamados a participar num estudo alargado sobre o “burnout” – um estado de profundo desgaste físico e mental – causado pela profissão. A viabilidade do projeto está a ser analisada pela Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC), que pretende “encontrar soluções” para um problema que já começou a dar sinais de se ter instalado entre os inspetores da polícia criminal.
O trabalho de um inspetor da PJ é, durante a maior parte do tempo, bastante discreto. Só quando chega o momento das apreensões e detenções mediáticas, depois de meses dedicados a uma investigação, se dá conta do esforço que é exigido a estes elementos. “Nós lidamos com o que a sociedade tem de pior”, sublinha ao i o presidente da associação, Ricardo Valadas – ele próprio com um currículo de largos anos de investigação de crimes informáticos e pornografia infantil.
Esses sinais de “desgaste” começaram a ser notados de forma sistemática no gabinete de psicologia da ASFIC, uma estrutura independente de um gabinete semelhante disponibilizado pela própria PJ aos seus profissionais. Foi a partir desse “feedback” transmitido por alguns dos inspetores que têm procurado ajuda profissional que a recém-eleita direção da associação sindical – com elementos que transitaram de direções anteriores – começou a trabalhar. Aliás, o gabinete já tinha sido criado para que se conseguisse fazer uma “identificação atempada de alterações físicas e psicológicas, que dificultam o bem-estar pessoal, familiar e/ou profissional, e que muitas vezes se manifestam de forma lenta e subtil, mas [que] podem ser detetadas através do check-up psicológico” dos inspetores, refere a informação no site da ASFIC.
A forma como o estudo sobre o burnout na classe poderá ser realizado ainda está a ser delineada pela direção, sendo certo que esse projeto “está em cima da mesa”. Mas, para Ricardo Valadas, o objetivo é claro: “Queremos identificar a real dimensão do problema entre os inspetores da PJ, antes que haja situações mais sérias, para encontrar soluções que possamos pôr em prática.” Quando fala em “situações mais sérias”, o dirigente sindical tem em mente potenciais casos de suicídio.
Parlamento ouve dirigentes Os planos da direção da ASFIC cruzam-se no tempo com o foco que volta a ser dado aos casos de suicídio entre os agentes das forças de segurança.
Na semana passada, uma reportagem da TVI expôs os casos de vários profissionais “no limite” que têm acorrido aos serviços de apoio psicológico dos respetivos sindicatos.
Na quarta-feira, Ricardo Valadas vai estar na Assembleia da República. Juntamente com os dirigentes de outras cinco associações criminais, o presidente vai discutir com os deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais Direitos, Liberdades e Garantias os suicídios que têm vindo a suceder-se entre os elementos da PSP e da GNR.
Não há registos de situações semelhantes na Polícia Judiciária, mas isso, considera Ricardo Valadas, não significa que o problema não exista e que não deva ser encarado de imediato.
Também a secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna, Isabel Oneto, vai estar presente, enquanto presidente do grupo de trabalho para a Revisão do Plano de Prevenção do Suicídio nas Forças de Segurança. Além de Daniel Sampaio, diretor do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, Carlos Silva Santos, coordenador do Programa Nacional de Saúde Ocupacional na Direção-geral de Saúde, e Hugo Dionísio, especialista em questões de higiene e segurança no trabalho.