José Sócrates voltou a dar uma entrevista e, desta vez, para falar de política. O alvo foi António Costa, a quem apontou vários erros desde que chegou à liderança do partido.
Durante uma hora de entrevista na rádio Antena 1, José Sócrates não fugiu a comentar nenhum dos principais temas da atualidade política, mas a novidade surgiu quando revelou que, ao contrário de António Costa, não teria aceitado ser primeiro-ministro sem ganhar as eleições. “Eu fui duas vezes primeiro-ministro. Eu nunca seria primeiro--ministro sem ter ganhado as eleições”, disse José Sócrates. E explicou: “É um problema moral, se sentimos ou não autoridade suficiente para comandar o governo. Eu não sentiria.” Sócrates garantiu, porém, que reconhece “toda a legitimidade a este governo e toda a legitimidade ao António Costa”.
As críticas ao atual líder do PS começaram quando o assunto foi as eleições presidenciais. Sócrates acusou a direção socialista de ter cometido “um erro político” ao não apoiar nenhum dos candidatos. “OPS entregou essa eleição. Não batalhou. Foi um erro político que favoreceu Marcelo Rebelo de Sousa.”
Outro “erro político” de António Costa foi a forma como atuou no caso BPI. “O decreto foi um erro. Há uma precipitação do governo em intervir diretamente (…) O empenho do governo neste caso foi excessivo.”
RELAÇÕES AZEDAS
As relações entre António Costa e José Sócrates esfriaram desde que o ex--primeiro-ministro foi preso preventivamente e viu a direção do PS demarcar-se do caso. “Não compete ao PS substituir-se quer à acusação quer à defesa, nem muito menos ao juiz, que deve julgar”, disse Costa, quando o ex-primeiro-ministro estava na cadeia de Évora.
A postura do PS irritou Sócrates, que esperava ter a solidariedade do partido que liderou durante sete anos. Não teve e, nesta entrevista à Antena 1, voltou a deixar claro que não compreende a falta de solidariedade da direção do PS. “Compreendi [a posição do PS] ao fim de três meses, ao fim de seis meses… Agora, ao fim de nove meses? Ao fim de um ano? Ao fim de um ano e meio?”
Costa só visitou Sócrates na cadeia uma vez e, numa entrevista ao “SOL”, antes das eleições legislativas, revelou que não tencionava voltar a fazê-lo, porque não tinha “tempo para o fazer”. Nessa altura, Marques Mendes garantiu, no seu comentário na SIC, que Sócrates dizia “cobras e lagartos” de António Costa aos socialistas que o visitavam na prisão.
CRÍTICAS AO MP
Sócrates voltou a defender que foi envolvido neste processo com o objetivo de travar a vitória do PS nas eleições legislativas e evitar a sua candidatura à Presidência da República. E apontou o dedo ao Ministério Público por, ao fim de um ano e meio, não ter ainda apresentado “factos, nem provas, nem acusação”. O ex-primeiro-ministro considera que o Ministério Público “está a colocar-se numa situação de grande suspeição”.