O Bloco de Esquerda quer mudar o cartão de cidadão porque acha que ele é sexista. Sinceramente, há coisas que não compreendo. Onde é que um simples cartão de plástico cinzento é sexista? Que eu saiba, o meu cartão não gosta de futebol, de revistas masculinas ou de tratar com condescendência empregadas de mesa. Está ali quietinho na minha carteira a portar-se exemplarmente e a respeitar todos os sexos. O único cartão pecaminoso que guardo na minha carteira é o cartão de cliente da Olá, que está constantemente a incentivar-me a cometer o pecado da gula, oferecendo-me um gelado grátis por cada dez que compre. Porque é que o BE não obriga a Olá a fazer um cartão em que o preço dos gelados vai aumentando exponencialmente? Por exemplo, o primeiro gelado custaria 2 euros, o segundo 4 euros e por aí fora. Se uma pessoa tivesse de pagar 1024 euros pelo décimo gelado, provavelmente pensava duas vezes. Se o BE quer combater cartões, que combata os que fazem mal à saúde das pessoas, não os que, supostamente, as ofendem.
O que sugerem eles fazer ao cartão de cidadão para ele ser menos sexista? Vão obrigar-nos a incluir, para além de uma fotografia no nosso estado normal, uma fotografia nossa a fazer transformismo? Se as pessoas já ficam mal em fotografias tipo passe, imaginem como vão ficar a fazer transformismo contra a sua vontade. Aliás, porque é que o cartão tem sequer fotografia? As fotografias não expressam realmente a individualidade de cada um. O cartão podia ter um espaço em branco para as pessoas se definirem através da arte.
É que não sei o que vão fazer. Vão aplicar lantejoulas no cartão, embrulhá-lo numa écharpe de plumas cor-de-rosa e imprimi-lo em papel que cheira a morango? Eu não quero chegar ao estrangeiro e ter de apresentar um cartão de cidadão não sexista que parece que veio diretamente de uma escola de samba e me trata como uma princesa. Além disso, não quero um cartão que me deixe a carteira cheia de purpurina cor-de-rosa.
O cartão de cidadão não é sexista. Se o termo “cidadão” os incomoda, que apaguem os oo com corretor. Ficam com uma não sexista “cartã de cidadã”.
Ser esquerdalho é nunca estar bem. Primeiro, resolveram mudar o bilhete de identidade segundo a seguinte justificação:
– Bilhete de identidade? Tipo, isto é só um cartão, man. A minha identidade é muito mais do que isso. Eu sou um ser humano, sou muito mais cenas do que a minha data de nascimento, sexo e estado civil. Eu sou um cidadão e preciso de um chip onde possa inserir mais informação do que a que existe neste cartão plastificado grande demais para a minha carteira.
Agora querem mudar o cartão de cidadão para uma coisa menos ofensiva. Vão mudá-lo para quê? Para “cartão de ser humano no seu estado holístico” ou “bilhete da existência plena e transcendente”? Para mim é indiferente, desde que não me encham o cartão de lantejoulas.
Pois eu acho o nome do Bloco de Esquerda muito sexista e sectário. Porque não mudam eles o nome do seu partido para algo mais inclusivo, como Muralha de Esquerda ou Muralha de Pessoas de Todos os Sexos, Idades, Religiões, com Pelos Nas Costas e Sem, Calvos e Cabeludos, Magricelas e Obesos de Esquerda. O MPTSIRPNCSCCMOE teria tudo para ser um grande partido inclusivo.
Esta febre da inclusão vai levar a que, um dia, o BE tente proibir que as pessoas batizem os seus filhos. É que se chamamos Gonçalo ou Constança a um bebé recém-nascido estamos a traumatizá-lo, atribuindo-lhe um género e enquadrando-o numa dicotomia sexual que é redutora, tendo em conta a diversidade dos humanos. Se calhar vamos ter de lhes dar um nome unissexo como Xapuki ou Tikatómi e só não lhes atribuímos um número de série porque a esquerda é contra números. Depois, vamos ter de esperar até que a criança cresça para escolher o seu género, podendo fazê-lo de entre um dos milhares disponíveis como mais ou menos feminino, masculino às quartas e sextas ou feminino nos anos bissextos ou escolhendo o seu próprio género como Ofipuka, Abacate ou Zoink.
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