Kobe Bryant. Do 8 ao 24, o guião perfeito chegou ao fim

Kobe Bryant. Do 8 ao 24, o guião perfeito chegou ao fim


Uma carreira de 20 anos, duas etapas (uma com a camisola 8 e outra com a 24) que resultaram em cinco anéis de campeão da NBA. Black Mamba despediu-se ontem como entrou: com 60 pontos e uma vitória no fim


O dia 13 de abril de 2016 já estava há muito marcado no calendário. Aos 37 anos, Kobe Bryant tinha decidido despedir-se da NBA. Até lá, arrastou os Lakers para a pior temporada da história (17 vitórias e 65 derrotas), enquanto os pavilhões se enchiam de adeptos adversários durante a época regular para lhe prestarem a última homenagem, para se despedirem do rei em passeio de corte. Mas o derradeiro encontro seria no Staples Center, em Los Angeles.

Deixou uma carta de amor ao basquetebol – nela dizia que já não aguentava. Foram 20 anos, todos na mesma equipa, um recorde também. O sonho da criança de seis anos que queria ser um Laker estava realizado, mas o amor não podia ser obsessivo para se não transformar em agonia. “Esta temporada foi tudo o que me restou para dar. O meu coração pode manter a batida, a minha cabeça pode lidar com a rotina, mas o meu corpo sabe que está na hora de dizer adeus”, escrevia no final de novembro. Ontem saiu como entrou – em grande.

Stock esgotado Com 60 pontos e uma vitória conquistada nos últimos segundos, Kobe fechou o último capítulo da sua história da melhor forma. O Staples Center encheu-se de aplausos e gritou pelo seu nome ao som de “Simply The Best”. Os Lakers deram a volta e venceram os Utah Jazz por 101-96. Kobe deixou a sua (última) marca, foi a maior pontuação de um jogador esta temporada da NBA, ultrapassando Anthony Davis, que tinha marcado 59 pontos em fevereiro na vitória dos Pelicans sobre os Pistons. Melhor dele, só aqueles 81 pontos em 20016 contra os Toronto Raptors. Mesmo assim, ainda longe dos 100 pontos de Wilt Chamberlain pelos Philadelphia Warriors em 1962.

Horas antes, tudo o que era relacionado com Kobe Bryant desapareceu das prateleiras da loja oficial dos Lakers. Mais de mil itens ligados à estrela, o mais novo dos filhos de Joe Bryant, também ele jogador da NBA (1975-1992), voaram num ápice. Ele agradeceu no pavilhão. “Obrigado a todos pelo carinho. Foi inesquecível. Vocês moram no fundo do meu coração. Muito obrigado por tudo o que fizeram. Não só hoje como em toda a minha carreira. Um final perfeito seria com um campeonato…”, disse emocionado. Tinha feito que chegasse e mesmo na última noite tornou-se o jogador mais velho da NBA a pontuar mais de 50 pontos numa partida. Foi a sexta vez na carreira que chegou aos 60 pontos. Not bad. “O melhor para mim foi os meus filhos poderem ver como eu costuma jgar”. Estava feito, ao lado de Natalia e Gianna Bryant.

A equipa jogou para ele e Kobe respondeu: 60 pontos, 22 lançamentos em 50 tentativas, incluindo 6 de 21 triplos, 10 em 12 lances-livre, quatro ressaltos e quatro assistências.

Antes dele, houve Magic Johnson. Depois, acompanhou Michael Jordan e vai-se agora deixando Stephen Curry e LeBron James na luta pela sua coroa. Passaram 20 anos, enfiou cinco anéis de campeão nos dedos, três na primeira etapa com a camisola 8 e Shaquille O’Neal ao lado – e dois anéis já mais maduro e de camisola 24, com Pau Gasol de ajudante. Saiu como o terceiro melhor marcador de sempre. Black Mamba mostrou-se em duas décadas, três anos difíceis e um final em decadência. Mas sempre respeitado. Um dos seus mais famosos seguidores, Jack Nicholson, também deixou uma mensagem: “Acho que deveria retirar-me contigo”.

Ficou o último cesto como ficou a última frase, na carta de despedida ao basquetebol. “E nós sabemos, não importa o que farei depois, sempre serei aquele miúdo, com aquelas meias enroladas, a lata de lixo no canto, cinco segundos no relógio e a bola na minha mão, 5 … 4 … 3 … 2 … 1. Vou amar-te para sempre, Kobe”.