Mais que a influência secular da imposição de padrões económicos e sociais, que evoluiu naturalmente no processo histórico e que, à semelhança das outras realidades pós-coloniais europeias, tende a integrar-se, ou não, na realidade das novas nações, acontece que no nosso caso, em contraponto real, resultou também virtuosa, criativa e persistente uma diáspora cultural de fixação e miscigenação. A sua leitura é ambígua por natureza, complexa nos relacionamentos, nada definitiva nas interpretações, e é curioso observar que essa ambiguidade é ideologicamente transversal e não resolveu ainda, à esquerda e à direita, social e culturalmente, esse intangível “labirinto da saudade”, convocado por Eduardo Lourenço dois anos depois dos vetustos 40 que celebra a nossa Constituição da República.
O recente e pitoresco episódio parlamentar relativo ao julgamento de Luaty Beirão e dos seus companheiros, em Angola, só vem demonstrar que no inconsciente de muitos portugueses, em plena realidade pós-colonial e perante um inquestionável atropelo dos direitos humanos, há algo bem mais complicado do que um mero posicionamento político ou ideológico, circunstancial. Não arrisco nenhuma entre tantas teses fascinantes. Mas tenho a certeza de que a culpa não é de Angola.
Escreve à terça-feira