O caqui


António José Saraiva, Vitorino Magalhães Godinho, Eduardo Lourenço, Agostinho da Silva são figuras maiores da nossa cultura contemporânea. Sendo tão distintos na forma como abordam as questões do império colonial, não deixam por isso de o interpretar, paradoxalmente, como uma diferença no contexto dos outros impérios europeus.


Mais que a influência secular da imposição de padrões económicos e sociais, que evoluiu naturalmente no processo histórico e que, à semelhança das outras realidades pós-coloniais europeias, tende a integrar-se, ou não, na realidade das novas nações, acontece que no nosso caso, em contraponto real, resultou também virtuosa, criativa e persistente uma diáspora cultural de fixação e miscigenação. A sua leitura é ambígua por natureza, complexa nos relacionamentos, nada definitiva nas interpretações, e é curioso observar que essa ambiguidade é ideologicamente transversal e não resolveu ainda, à esquerda e à direita, social e culturalmente, esse intangível “labirinto da saudade”, convocado por Eduardo Lourenço dois anos depois dos vetustos 40 que celebra a nossa Constituição da República.

O recente e pitoresco episódio parlamentar relativo ao julgamento de Luaty Beirão e dos seus companheiros, em Angola, só vem demonstrar que no inconsciente de muitos portugueses, em plena realidade pós-colonial e perante um inquestionável atropelo dos direitos humanos, há algo bem mais complicado do que um mero posicionamento político ou ideológico, circunstancial. Não arrisco nenhuma entre tantas teses fascinantes. Mas tenho a certeza de que a culpa não é de Angola.

Escreve à terça-feira


O caqui


António José Saraiva, Vitorino Magalhães Godinho, Eduardo Lourenço, Agostinho da Silva são figuras maiores da nossa cultura contemporânea. Sendo tão distintos na forma como abordam as questões do império colonial, não deixam por isso de o interpretar, paradoxalmente, como uma diferença no contexto dos outros impérios europeus.


Mais que a influência secular da imposição de padrões económicos e sociais, que evoluiu naturalmente no processo histórico e que, à semelhança das outras realidades pós-coloniais europeias, tende a integrar-se, ou não, na realidade das novas nações, acontece que no nosso caso, em contraponto real, resultou também virtuosa, criativa e persistente uma diáspora cultural de fixação e miscigenação. A sua leitura é ambígua por natureza, complexa nos relacionamentos, nada definitiva nas interpretações, e é curioso observar que essa ambiguidade é ideologicamente transversal e não resolveu ainda, à esquerda e à direita, social e culturalmente, esse intangível “labirinto da saudade”, convocado por Eduardo Lourenço dois anos depois dos vetustos 40 que celebra a nossa Constituição da República.

O recente e pitoresco episódio parlamentar relativo ao julgamento de Luaty Beirão e dos seus companheiros, em Angola, só vem demonstrar que no inconsciente de muitos portugueses, em plena realidade pós-colonial e perante um inquestionável atropelo dos direitos humanos, há algo bem mais complicado do que um mero posicionamento político ou ideológico, circunstancial. Não arrisco nenhuma entre tantas teses fascinantes. Mas tenho a certeza de que a culpa não é de Angola.

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