Defender em grande escala os interesses nacionais aqui é também procurar um futuro sério e útil para a organização. No seu artigo publicado no Expresso deste fim-de-semana, carregado de lugares comuns (que tanto fazem sentido ao dia de hoje como há vinte anos atrás) faltou também uma explicação mais ou menos legítima em relação ao que interessava, não se tendo vislumbrado qualquer desenvolvimento ou afirmação de ideias para o futuro. Perante este artigo, só os mais distraídos se poderão manter esperançosos em relação ao salto que a organização deveria dar e ao papel que Portugal deveria assumir para que isso acontecesse.
Perdida a oportunidade de Portugal nomear um secretário executivo nacional, conforme lhe cabia em razão do sistema de rotatividade, diz o Sr. Ministro que é “uma regra de ouro da CPLP” um país africano ocupar sempre cargos de coordenação. Não só é tosca a explicação, como também nos conduz para outras, aí sim, “regras de ouro” quebradas recentemente. Na constante enfatização da “cooperação para a promoção da língua”, nem uma palavra em relação ao estado actual do acordo ortográfico – levado a cabo por alguns, esquecido por outros, e cujo efeito desfavorável para Portugal, mereceria esforços conjuntos na procura de um novo paradigma. Mas o Sr. Ministro, que afirma o país como um entre iguais sem querer – ser mais nem menos – ignora várias outras realidades, nomeadamente as que deitam por terra todo este seu cântico bacoco à promoção da língua e à igualdade de forças entre estados-membros. A entrada da Guiné Equatorial (contra a vontade e ganho económico português) foi um entre vários dos desenlaces que coloca isso a nu.
Perdida muita da sua força política, é preciso perceber o que é recuperável e desenvolver uma organização económica que sirva um maior interesse generalizado e regional.
O potencial sempre foi e será muito. Sabemos hoje que as relações entre os países são quase todas a nível bilateral e não multilateral, sem um carácter global através da organização, com grande excepção da – Confederação Empresarial -, que perdida a tal afirmação politica, poderia servir como motor para outros desenvolvimentos.
Quando se manifesta o interesse em projectos conjuntos ligados ao mar, educação, turismo e energia, interessará também financiá-los através de um banco de desenvolvimento. Não é nova a ideia e se existem instituições financeiras ligadas à CPLP que dão sinais de o pretenderem, serão igualmente muitas as empresas agradecidas na sua internacionalização para estes países através de uma entidade deste cariz.
A CPLP – por quem Portugal sempre se interessou bastante mais do que, por exemplo, Angola ou o Brasil, vai fazer vinte anos. Se encontramos um banco de desenvolvimento como âncora em todas as outras organizações multilaterais para fortalecê-las tanto política como economicamente, não será esta uma boa solução para uma organização cuja irrelevância é cada vez maior?
Uma coisa é certa: ignorar o que falhou, fazer o discurso de somos todos iguais sem puxar por determinados estados-membros, virar o disco e tocar o mesmo como se nada se tivesse passado nos últimos vinte anos, é matá-la de vez tanto política como economicamente. Pede-se mais a um Ministro, que deverá ter a CPLP como “dossiê” principal nos próximos anos e a quem não basta hoje, “malhar.”