Só as oligarquias, as ditaduras e os totalitarismos não vivem situações semelhantes, por ser essa, de facto, uma máfia, a própria natureza desses regimes. Mas atenção: as dramatizações excessivas, bipolares e instigadoras é que podem tornar-se perigosas, quando o normal funcionamento dos sistemas constitucionais nos Estados de direito começa a duvidar de si próprio, da sua capacidade de julgar e autorregenerar-se. Por outro lado, o escrutínio tornou-se maior, porventura mais competente, a exigência aumentou, e aquilo que noutros tempos era impensável que acontecesse com tanta frequência acaba por acontecer, e com feridas algo dolorosas à esquerda e à direita. A solidez das democracias é, deve ser e é bom que seja constantemente testada no funcionamento da justiça e dos tribunais. Porque em democracia a conduta dos decisores, aquilo que constitui a ética republicana, está acima das diferenças ideológicas e não constitui monopólio de qualquer pensamento crítico. Todos podem prevaricar, cuidado com os truques.
Ora, é por isso mesmo que não feneci em choque e sinto enorme relutância em comentar estas situações. “Vemos, ouvimos e lemos”, como diz Sophia, e isso é tudo o que podemos saber sem andarmos distraídos. O que, afinal, é muito pouco perante aquilo que só os tribunais podem conhecer, julgar e decidir. Pela saúde da democracia.
Escreve à terça-feira