BPI. Acionistas já têm um esboço de acordo, mas não há fumo branco

BPI. Acionistas já têm um esboço de acordo, mas não há fumo branco


Condições financeiras, garantias e autorizações prendem  o acordo final entre CaixaBank e Isabel dos Santos. António Costa quer capital estrangeiro na banca do país –  “seja espanhol, angolano, alemão ou americano”


O CaixaBank e Isabel dos Santos estão perto de um acordo para que os espanhóis fiquem com a posição da empresária angolana no BPI, mas os pormenores financeiros da operação estão a adiar a formalização do entendimento. Ontem, depois de um dia com as ações suspensas em bolsa à espera de novidades, o advogado de Isabel dos Santos revelou o balde água fria: “Efectivamente, têm sido mantidas negociações com representantes do CaixaBank. Mas, nesta data, não há qualquer acordo”, assumiu Mário Silva.

As ações do BPI foram suspensas de manhã, com a CMVM a solicitar que o banco prestasse esclarecimentos sobre as negociações. Durante o dia, a “Reuters” avançou que os catalães e Isabel dos Santos estavam a acertar os detalhes finais do acordo, citando uma fonte envolvida nas negociações. “Estamos numa fase de trocas constantes de protocolos entre as duas partes de um negócio que é complexo e envolve muitas entidades”, disse à “Reuters”, acrescentando que entre os detalhes estão as formas de pagamento e as opções futuras de ambas as partes.

“Está na fase final, mas é apenas um esboço de um acordo que ainda não está concluído, já que  as condições financeiras, as garantias e as autorizações não estão ainda completamente acordadas”, referiu.

Troca por troca Isabel dos Santos tem 18,6% do BPI, através da empresa Santoro, ao passo que o CaixaBank tem 44,1% do banco presidido por Fernando Ulrich. Os dois acionistas estão em conflito há um ano, depois de uma OPA falha dos catalães.

O acordo agora em discussão prevê que o Caixabank compre a participação de Isabel dos Santos no BPI em troca da cedência do controlo do BFA, em Angola. A empresária deverá comprar uma participação no BFA, e ficaria com uma posição de controlo, uma vez que já tem 49,9% do banco angolano, através da Unitel.

Se o Caixabank comprar a posição de Isabel dos Santos terá de lançar uma oferta pública de aquisição total sobre o BPI. E, se Isabel dos Santos sair do BPI, expectável que pondere assumir uma participação no Millennium BCP, cujo maior accionista é a petrolífera angolana Sonangol (detém uma participação de 19%).

Mas a forma de entrar neste banco envolve negociações com o Governo. O Millennium bcp detém 750 milhões de euros em empréstimos do Estado, que poderiam ser reembolsados com a entrada de um novo accionista.

“O Governo Português já deu o seu sinal de aprovação para tal cenário. Essa entrada poderia ser feita através de um aumento de capital, por exemplo, capitalizar o banco para que ele possa pagar ao Estado”, disse a fonte citada pela “Reuters”.

No fim-de-semana, o “Expresso” avançou que o primeiro-ministro tinha reunido com a empresária angolana na semana passada, tendo dado o aval à entrada no BCP.

Costa multicultural Ontem, sem revelar se havia estado reunido com Isabel dos Santos, o primeiro-ministro assumiu que o governo está empenhado em ter um sistema financeiro “estabilizado e devidamente capitalizado”.

Durante uma visita oficial à Região Autónoma da Madeira, António Costa foi questionado sobre a questão do BPI e disse que Portugal funciona como uma “economia aberta”, sem olhar a nacionalidades.

Para Costa, o importante que Portugal tenha “um sistema financeiro estabilizado e devidamente capitalizado, certamente com capital nacional, mas também com capital estrangeiro, seja ele espanhol, seja ele angolano, seja ele alemão, seja americano”.

“Era o que faltava que em Portugal pudesse haver qualquer tipo de discriminação em razão da nacionalidade para o investimento na economia portuguesa e, designadamente, no sistema financeiro”, disse.

joao.madeira@ionline.pt