PS. Francisco Assis vem de Bruxelas para o regresso de Seguro

PS. Francisco Assis vem de Bruxelas para o regresso de Seguro


Ex-líder do PS apresenta, dia 10, o livro da tese de mestrado – uma avaliação da reforma do parlamento que ele próprio fez como deputado


António José Seguro vai fazer a sua reaparição pública na próxima semana, 18 meses depois de ter descido as escadas da sede do PS, no Rato, derrotado nas “diretas” por António Costa. O ex-líder volta a juntar socialistas à sua volta para apresentar a edição em livro da sua tese de mestrado. A dissertação é em si própria uma peça singular de intervenção política, porque faz o balanço da principal reforma do parlamento, da autoria do próprio Seguro, então deputado. A dissertação sobre o controlo político do governo feito pelo parlamento mereceu 18 valores.

O ex-secretário-geral conta ter muitos dos seus apoiantes no PS na cerimónia, socialistas que estiveram do seu lado nas diretas. Confirmada está a presença de Francisco Assis, a principal voz dissonante do atual PS, na sessão de 10 de março na Universidade Autónoma de Lisboa, onde Seguro dá agora aulas de Ciência Política.

O eurodeputado, principal figura da oposição interna à viragem do PS à esquerda, vem especialmente de Bruxelas para a cerimónia. Maria de Belém Roseira, ex-candidata presidencial e presidente do PS no tempo de Seguro, é outra das presenças aguardadas. Assim como a de João Soares, o ministro da Cultura de Costa, mas, antes disso, um indefetível segurista.

O pós-segurismo A cerimónia de apresentação do livro com a tese de mestrado de Seguro ocorre num momento de definição interna no aparelho do PS. As eleições para as estruturas distritais – onde poucos seguristas vão continuar a ser líderes – estão marcadas para esta sexta e sábado. Além disso, começou a contagem decrescente para o congresso nacional do PS, em que Assis volta a surgir como rosto principal do PS que não está integrado no costismo.

Está fora de questão Assis aparecer como oposição a Costa. “Ele nunca surgirá como adversário para travar esta maioria”, diz fonte próxima. Mesmo a apresentação de uma moção no congresso de 4 e 5 de junho é uma possibilidade bem menos provável que “uma intervenção antes do congresso, como um documento público de posicionamento político”, diz um socialista.

Com Assis a ter protagonismo garantido no congresso, a apresentação do livro de António José Seguro é vista por alguns deste campo como o início de um “regresso” à política do ex-secretário-geral do PS. A sessão valorizará, aliás, o contributo da sua reforma do parlamento para a melhoria do funcionamento da democracia. Os debates quinzenais com o primeiro-ministro, as audições de ministros são obra sua, num projeto legislativo, em 2007, quando Sócrates era primeiro-ministro e governava em maioria absoluta.

A interrogação sobre o protagonista da oposição interna no PS tem, pois, diversas respostas. Muitos veem o congresso como uma “caminhada sem pressas mas em passo firme em direção ao pós-segurismo e ao pós-costismo”. Nesta linha de estratégia, a intervenção no congresso de Assis será preparada nas próximas semanas em vários encontros de dirigentes do PS que lhe são próximos.

“Há uma ala moderada no PS que está agora com António Costa mas que, depois deste ciclo, quando a ‘geringonça’ acabar e quando o ciclo costista chegar ao fim, se voltará para Assis.” Esta previsão, feita por um socialista que está com Assis, tem em conta que a viragem à esquerda não é apoiada, por exemplo, por Sérgio Sousa Pinto, Marcos Perestrello e Ascenso Simões.

Quanto ao futuro do próprio António José Seguro, há a convicção dos que lhe são próximos de que “não virou as costas à política”. “Gostaria de voltar a liderar o PS”, diz um apoiante. Este não é, porém, um cenário que agrade a todos. “Um PS em guerra e a tentar acertar contas com o passado seria o fim do partido.” Daí que o futuro se possa chamar Francisco Assis.

Sem aparelho O futuro próximo, contudo, não se adivinha promissor. O segurismo está a ser varrido da máquina partidária socialista. “Quem não faz parte do poder tem esperança de vir a fazer parte e não quer chatices”, diz um ex-dirigente. E há seguristas que são vistos agora “como seguristas integrados”. É o caso de António Gameiro, líder de Santarém.

Nas eleições para as federações distritais impera o candidato único. No Porto, José Luís Carneiro (que foi apoiante de Seguro) será substituído por Manuel Pizarro (um costista). Em Coimbra, o adiamento das eleições dita, na prática, menos uma distrital que não era costista. O Baixo Alentejo e Santarém ficam como os poucos bastiões seguristas depois deste fim de semana.

António Galamba, ex-membro do secretariado de Seguro, traça um quadro negro. “Estão a acabar com a discussão interna e prevejo que o PS possa não sobreviver a esta fase.” A análise de Galamba, que nas últimas eleições foi candidato (derrotado) na federação de Lisboa, contra Marcos Perestrello, conclui pela existência de “sectarismo” e de “coisas que não são dignas de um partido com os pergaminhos democráticos do PS”.

Galamba diz que não faz sentido “estar exultante por não haver candidaturas alternativas nas federações”. Só Viana do Castelo, Guarda, Leiria e Évora têm dois concorrentes.

“A tentação para o desastre autárquico [em 2017] é grande”, diz, entre outras coisas “pela gestão política que está a ser feita a nível nacional. Só quem não anda com os pés no chão é que não vê o que está a acontecer no país: BE e PCP apoiam o governo, mas depois fazem do piorio ao nível local”, diz. Há 15 dias, o “Diário do Alentejo”, “controlado pelas câmaras do PCP, fazia uma capa que é ‘governo põe Baixo Alentejo na gaveta’”. Galamba diz que o PS atual “não percebe o papel das estruturas”. E diz não saber “se haverá partido nas autárquicas”. “Estou a pensar abandonar a vida política”, diz o dirigente da comissão política nacional.

manuel.a.magalhaes@ionline.pt