No passado verão, aqui deixei sinal do meu revoltado desalento relativamente à situação crítica de uma loja centenária e referencial de Lisboa: a da Fábrica Sant’Anna, na esquina do Largo do Barão de Quintela com a Rua do Alecrim. Estava então iminente o seu despejo, em nome de mais uma “nobre” reabilitação de um imóvel que daria ou dará lugar a mais um… hotel de charme. Desconheço os posteriores desenvolvimentos do caso, mas registo agora, com todo o meu aplauso, que a Câmara de Lisboa vai pôr em marcha medidas concretas de proteção cultural e patrimonial para as lojas históricas da cidade, através de diversos mecanismos de apoio e com os critérios alinhados em três vertentes: a atividade, o património material e o património cultural e histórico. A evolução é óbvia e fica assim gerada uma expetativa positiva de mudança que dê corpus regulamentar a este tema crítico e proteja efetivamente aquilo que se deve proteger. O lugar da modernidade é esse mesmo, inovador, e está para além do que é novo e necessário; está sim, decisivamente, na inteligência de uma intervenção culta e sustentada. Sem mais lisboetas não haverá mais Lisboa.
Escreve à terça-feira