Têm sido anos de sucessivas afrontas ao orgulho e interesse nacionais. Os casos são todos eles obscenos e indignos de uma nação que se orgulha dos seus nove séculos de existência. Têm sido verdadeiros anos de chumbo para quem sente correr nas veias o mais puro sangue lusitano. Não é preciso ir muito longe. Basta recordar o que foram os anos de resgate, de vergonha, de falta de soberania, de humilhação impostos a este país de boas contas e gente sã.
À pala da dívida que Portugal acumulou e não vai conseguir pagar neste século xxi, os credores internacionais, para além de várias maldades impostas aos portugueses, em particular aos sacrificados e leais funcionários públicos, que dedicam uma vida de trabalho aos cidadãos que não tiveram o privilégio de servir o Estado, e às empresas, nacionais e estrangeiras, enfim, à nação, obrigaram um governo traidor, disfarçado de neoliberal, a vender as joias da coroa praticamente ao desbarato a tudo o que era estrangeiro. Começou com a EDP, essa empresa estratégica por onde passaram gestores públicos de enorme prestígio e qualidade, fornecedora em regime de monopólio de um serviço essencial à vida, a querida e sagrada luz. Uma EDP que deu emprego a bons filhos da pátria, por sua vez filhos de altos dignitários de um regime que tirou a pátria da longa noite fascista. A EDP, num gesto frio, insensível, foi entregue a chineses comunistas de uma empresa estatal da República Popular da China. A luz dos lares portugueses nunca mais foi a mesma.
O golpe seguinte foi a REN, outra grande empresa estratégica nacional, que também ficou, para desgraça pátria, na mão de comunistas chineses. E se a distribuição de luz e o seu fornecimento às casinhas nacionais constituiu um golpe profundo no amor-próprio da nação, os aeroportos, do Porto ao Algarve, dos Açores à Madeira, outra grande empresa estratégica, foram vendidos a uns franceses desqualificados que vão fazer tudo o que puderem para transformar a nossa extraordinária infraestrutura aeroportuária num miserável conjunto de apeadeiros ao serviço de interesses estrangeiros.
Mas o pior estava para vir. A TAP, sim, a querida TAP, a companhia que faz marejar de lágrimas os olhos dos portugueses, foi vendida, mal vendida, a um americano disfarçado de brasileiro depois da tentativa falhada de um colombiano disfarçado de polaco abocanhar a menina dos nossos olhos. Mas este negócio antipatriótico está a ser corajosamente travado pelo governo patriota do Costa, Catarina e Jerónimo. O trio da vida airada faz tudo o que pode e não pode para não deixar a querida TAP, que nenhuma companhia do mundo digna desse nome quis comprar, cair em mãos estrangeiras.
Esta pátria secular tem muito orgulho numa companhia cheia de dívidas, de prejuízos, sem aviões, que garantiu anos a fio, orgulhosamente só, que os portugueses dos Açores, Madeira e Porto aterrassem em segurança na capital desta pátria lusitana. Mas o pior estava para vir quando o país viu, impotente, a querida PT dos telefones escangalhar-se em duas e ficar nas mãos de franceses e brasileiros.
Vencida mas não convencida, a elite nacional começa agora uma luta desesperada para ter, ao menos, uma banca nacional, pura, portuguesa, dirigida por portugueses e destinada a prestar serviços aos pobres e sacrificados portugueses, simples cidadãos, empresários ou funcionários públicos, que se arriscam a perder a outra face sem apelo nem agravo. É verdade que há muitos anos que os bancos nacionais têm capital estrangeiro. O BCP é dos angolanos, o BPI é espanhol e angolano, o Banif passou para mãos espanholas num negócio mal esclarecido, o BES, português de gema, deu um estoiro monumental e o Montepio anda pelas ruas da amargura. Agora é preciso cerrar fileiras e defender o Novo Banco, com mil milhões de euros de prejuízos, e a Caixa Geral de Depósitos, mãe de todos os negócios e arranjinhos nacionais, ponta-de-lança de governos na defesa das suas clientelas. Agora é preciso nacionalizar o Novo Banco e, se possível, integrá-lo na CGD dos nossos sonhos. A elite nacional imagina que o menos por menos da matemática dá mais no caso de dois bancos cheios de buracos.
O menos por menos, na banca, dá um buraco monumental que será apresentado em bandeja de lata aos portugueses para pagarem a fatura. Diz a elite, sem se rir, que não há economia que cresça sem uma banca nacional. Como a economia portuguesa rasteja há anos, com banca ou sem banca em mãos lusitanas, a nova estratégia da querida elite nacional tem todas as razões para ser, como de costume, mais um desastre. O problema da pátria não são os estrangeiros, espanhóis, brasileiros, franceses ou chineses. O problema da pátria é que ainda não conseguiu dar ou vender ao desbarato a sua elite nacional.