Houdini da política portuguesa


O governo e a extrema-esquerda querem transformar a política portuguesa num grande espetáculo de ilusionismo.


Só que os graves problemas que o país enfrenta não se resolvem com mágicos, curandeiros ou pós de perlimpimpim.

Se o usasse, tiraria o meu chapéu a António Costa. O líder do governo é um mestre do ilusionismo na política. Não importa o que é. Importa o que parece que é.
O fenómeno não é de agora. Gaba-se da sua experiência como homem de Estado, mas foge a sete pés da bancarrota que os seus governos nos deixaram e da austeridade que infligiram. Fernando Medina, o seu sucessor nos Paços do Concelho, mostra com gratidão a sua solidariedade para não expor a pesada herança que recebeu – e que não consegue reverter. Já para não insistir no tema das legislativas, que o PS perdeu, e depois delas foi cilindrado nas presidenciais, tendo António Costa aparecido sempre como vencedor. Qual é o truque? É que mesmo perdendo, Costa cria a ilusão de que ganha sempre. O seu governo funciona em espelho.

Vamos ao último dossiê cantado como vitória da pátria: a TAP. O Estado pagou 1,9 milhões para ter de volta 50% da companhia. Até parece que defendeu o interesse público. Mas vejamos em pormenor: por 1,9 milhões de euros, Costa voltou a nacionalizar parte do risco e reassumiu a necessidade do investimento futuro na transportadora. Tudo isto sem se conhecer uma linha da sua estratégia (ela existe?) para a TAP. E não se pense que o Estado manda alguma coisa na TAP, porque não manda nada. 1,9 milhões de euros só serve para pagar os lugares de administradores socialistas. E logo meia dúzia. Todos amigos do PS, ou de Costa, ou de ambos.

Quanto ao Orçamento do Estado, outra “vitória” da nossa frente popular, só não vimos unicórnios a voar porque a Comissão Europeia estragou o espetáculo. Costa impingiu-nos uma série de ilusões grosseiras sobre o OE. A primeira é a admissão de que este é o Orçamento ”que vira a página da austeridade”. Seria para rir se não fosse trágico. Este é o Orçamento que, em termos líquidos, mais carrega na austeridade. Entre as medidas que dão e as que tiram, o governo de Costa fica a ganhar 186 milhões. E espera cobrar uns astronómicos 40 mil milhões em impostos.

O OE queria ser uma manifestação da TIA (there is alternative) contra a TINA (there is no alternative) da austeridade. Olhando para o resultado final, só apetece mesmo dizer WANI (we are not idiots).

A segunda ilusão é acreditar que este é um OE Robin dos Bosques. Não é. Boa parte da austeridade proposta pelo PS – veja–se o aumento do imposto sobre os combustíveis – é socialmente cega. Prejudica quem menos tem. Também é um OE muito penalizador para quem exporta, para quem investe e para quem cria postos de trabalho. Prejudica quem menos tem (outra vez). A terceira grande ilusão é vender este OE como uma “grande vitória” de Costa. Este foi, aliás, um excelente teste à sua tão badalada capacidade negocial. O primeiro-ministro queria gastar à tripa-forra. Bruxelas, cheirando a irresponsabilidade e não permitindo que se abrisse uma nova brecha no euro a partir de Lisboa, pôs travão a fundo nos socialistas. Resultado: entre o primeiro esboço e a versão final que os comissários deixaram passar (com alertas para o risco de incumprimento) há uma diferença de mil milhões de euros no esforço de consolidação. Mil milhões não é coisa pouca. É o tamanho da incapacidade negocial de Costa. A expressão “grande vitória” anda mesmo nas ruas da amargura com os socialistas.

O OE não tem vestígios do cenário macroeconómico de Centeno. Tem alguma coisa dos acordos à esquerda e muita coisa que Costa sempre escondeu que teria de fazer. É a geringonça orçamental da geringonça.

O governo e a extrema-esquerda querem transformar a política portuguesa num grande espetáculo de ilusionismo. Só que os graves problemas que o país enfrenta não se resolvem com mágicos, curandeiros ou pós de perlimpimpim.

O drama de qualquer Orçamento, deste e dos outros, é que o papel, a folha de excel ou qualquer programa informático aceitam tudo o que lhe dão. Mas a realidade, depois, é que é a culpada. Este OE aceitou tudo e o seu contrário. O choque com a realidade vai ser duro e quem sofre mais, infelizmente, são sempre os mesmos: os mais desfavorecidos e desprotegidos.

Indigna ver repetidos os erros do passado. Preocupa a escolha de um caminho imprudente que pode deitar a perder o esforço de todos para servir o interesse de alguns.

Por mais que as esquerdas se achem no divino direito de exercer o poder sem escrutínio, como maior partido no parlamento, o PSD assumirá o dever patriótico de sublinhar os riscos e assinalar as alternativas. Como Pedro Passos Coelho provou, há outro caminho. Com menos ilusões, mas com muito mais futuro para Portugal.

Todos gostaríamos de acreditar que este OE resulta mesmo. Porque, ao contrário de Costa e do seu governo, o país não resistirá a derrotas mascaradas de vitórias.


Houdini da política portuguesa


O governo e a extrema-esquerda querem transformar a política portuguesa num grande espetáculo de ilusionismo.


Só que os graves problemas que o país enfrenta não se resolvem com mágicos, curandeiros ou pós de perlimpimpim.

Se o usasse, tiraria o meu chapéu a António Costa. O líder do governo é um mestre do ilusionismo na política. Não importa o que é. Importa o que parece que é.
O fenómeno não é de agora. Gaba-se da sua experiência como homem de Estado, mas foge a sete pés da bancarrota que os seus governos nos deixaram e da austeridade que infligiram. Fernando Medina, o seu sucessor nos Paços do Concelho, mostra com gratidão a sua solidariedade para não expor a pesada herança que recebeu – e que não consegue reverter. Já para não insistir no tema das legislativas, que o PS perdeu, e depois delas foi cilindrado nas presidenciais, tendo António Costa aparecido sempre como vencedor. Qual é o truque? É que mesmo perdendo, Costa cria a ilusão de que ganha sempre. O seu governo funciona em espelho.

Vamos ao último dossiê cantado como vitória da pátria: a TAP. O Estado pagou 1,9 milhões para ter de volta 50% da companhia. Até parece que defendeu o interesse público. Mas vejamos em pormenor: por 1,9 milhões de euros, Costa voltou a nacionalizar parte do risco e reassumiu a necessidade do investimento futuro na transportadora. Tudo isto sem se conhecer uma linha da sua estratégia (ela existe?) para a TAP. E não se pense que o Estado manda alguma coisa na TAP, porque não manda nada. 1,9 milhões de euros só serve para pagar os lugares de administradores socialistas. E logo meia dúzia. Todos amigos do PS, ou de Costa, ou de ambos.

Quanto ao Orçamento do Estado, outra “vitória” da nossa frente popular, só não vimos unicórnios a voar porque a Comissão Europeia estragou o espetáculo. Costa impingiu-nos uma série de ilusões grosseiras sobre o OE. A primeira é a admissão de que este é o Orçamento ”que vira a página da austeridade”. Seria para rir se não fosse trágico. Este é o Orçamento que, em termos líquidos, mais carrega na austeridade. Entre as medidas que dão e as que tiram, o governo de Costa fica a ganhar 186 milhões. E espera cobrar uns astronómicos 40 mil milhões em impostos.

O OE queria ser uma manifestação da TIA (there is alternative) contra a TINA (there is no alternative) da austeridade. Olhando para o resultado final, só apetece mesmo dizer WANI (we are not idiots).

A segunda ilusão é acreditar que este é um OE Robin dos Bosques. Não é. Boa parte da austeridade proposta pelo PS – veja–se o aumento do imposto sobre os combustíveis – é socialmente cega. Prejudica quem menos tem. Também é um OE muito penalizador para quem exporta, para quem investe e para quem cria postos de trabalho. Prejudica quem menos tem (outra vez). A terceira grande ilusão é vender este OE como uma “grande vitória” de Costa. Este foi, aliás, um excelente teste à sua tão badalada capacidade negocial. O primeiro-ministro queria gastar à tripa-forra. Bruxelas, cheirando a irresponsabilidade e não permitindo que se abrisse uma nova brecha no euro a partir de Lisboa, pôs travão a fundo nos socialistas. Resultado: entre o primeiro esboço e a versão final que os comissários deixaram passar (com alertas para o risco de incumprimento) há uma diferença de mil milhões de euros no esforço de consolidação. Mil milhões não é coisa pouca. É o tamanho da incapacidade negocial de Costa. A expressão “grande vitória” anda mesmo nas ruas da amargura com os socialistas.

O OE não tem vestígios do cenário macroeconómico de Centeno. Tem alguma coisa dos acordos à esquerda e muita coisa que Costa sempre escondeu que teria de fazer. É a geringonça orçamental da geringonça.

O governo e a extrema-esquerda querem transformar a política portuguesa num grande espetáculo de ilusionismo. Só que os graves problemas que o país enfrenta não se resolvem com mágicos, curandeiros ou pós de perlimpimpim.

O drama de qualquer Orçamento, deste e dos outros, é que o papel, a folha de excel ou qualquer programa informático aceitam tudo o que lhe dão. Mas a realidade, depois, é que é a culpada. Este OE aceitou tudo e o seu contrário. O choque com a realidade vai ser duro e quem sofre mais, infelizmente, são sempre os mesmos: os mais desfavorecidos e desprotegidos.

Indigna ver repetidos os erros do passado. Preocupa a escolha de um caminho imprudente que pode deitar a perder o esforço de todos para servir o interesse de alguns.

Por mais que as esquerdas se achem no divino direito de exercer o poder sem escrutínio, como maior partido no parlamento, o PSD assumirá o dever patriótico de sublinhar os riscos e assinalar as alternativas. Como Pedro Passos Coelho provou, há outro caminho. Com menos ilusões, mas com muito mais futuro para Portugal.

Todos gostaríamos de acreditar que este OE resulta mesmo. Porque, ao contrário de Costa e do seu governo, o país não resistirá a derrotas mascaradas de vitórias.