Já conhecemos de cor a música. Foi assim que Sergio Leone nos ensinou e, sempre que a cantarolamos ou ouvimos, imaginamos um deserto, cobóis e muita poeira. É um western e será sempre servido com spaghetti e o ouvido em Ennio Morricone. É aqui que entra Pellegrini, de pistola em riste pelo seu Manchester City. E depois do anúncio da chegada de Guardiola na próxima época, resta-lhe a última bala.
O City nunca passou dos oitavos-de-final da Champions, uma nódoa no CV da equipa que mais dinheiro gastou em jogadores desde 2008. Foram mil milhões de euros e a sala do museu continua à espera – em quatro participações na Liga dos Campeões, ficou pelo caminho nas duas primeiras ainda na fase de grupos e, nas duas seguintes, não passou dos oitavos-de-final, em ambas eliminado pelo Barcelona, esse sim, com a cintura coberta de coldres.
Não desta vez. Manuel Pellegrini joga tudo nos duelos a eliminar até à final da prova que precisa vencer para sair de Manchester em estilo e com o seu nome gravado a ouro. Novamente a música de Morricone. Quer deixar a Pep Guardiola o mesmo desafio que o catalão encontrou quando deixou a Munique e Jupp Heynckes lhe entregou um Bayern campeão europeu. Uma espécie de vingança. Para isso tem de ultrapassar o Dínamo (é a primeira vez desde 2000 que chega até aqui, depois de dez eliminações em dez participações). E neste duelo saiu a vencer Sergey Rebrov, antigo ídolo do clube e agora treinador.
Para chegar a Kiev – e enfrentar o Dínamo, equipa que eliminou o Porto na fase de grupos –, o treinador chileno desistiu de várias coisas. Sacrificou a Premier League (as duas derrotas em casa com Leicester e Tottenham afastaram o City do topo – está no quarto lugar a 6 pontos do líder). Mas fez pior na Taça de Inglaterra: contra o Chelsea, e tendo vários lesionados (De Bruyne, Nasri, Bony, Deplph, Navas) apresentou-se em Stamford Bridge com sete futebolistas com menos de 20 anos, todos habituais titulares da equipa B – e foi goleado 5-1. Três derrotas seguidas. O objetivo era claro: a Liga dos Campeões.
Na Ucrânia (e perante uma equipa que, à semelhança do Zenit na Luz, não jogava desde Dezembro) pôs-se a ganhar cedo com Aguero, Silva e, mesmo no final, Yaya Touré. A vitória fora abre as portas inéditas dos quartos-de-final. E nem o golo de Buyalskiy – e o jogo comandado pelo pé esquerdo de Miguel Veloso – faz tremer a eliminatória. E muito menos treme a mão de Pellegrini, ele que já levou o Málaga aos quartos-de-final desta competição. A caminhada continua até à final, para o derradeiro duelo.