Saiba quem são os “tios” e os “primos” do governo Costa

Saiba quem são os “tios” e os “primos” do governo Costa


A geringonça é uma família complexa: tem de negociar ao mesmo tempo com os “tios” e os “primos”. Está a ser duro.


“Temos de falar com os primos.” É assim que os governantes do PS se referem aos representantes do PCP e do Bloco de Esquerda, com quem assinaram acordos de apoio parlamentar. Os “primos”, já se sabia, iam dar trabalho – o governo está dependente do seu apoio para prosseguir funções. Os últimos dias foram frenéticos em negociações com “os primos” mas, talvez ainda mais, com “os tios”, afirma ao i uma fonte governamental.

No léxico particular do governo Costa, “os tios” são as instituições europeias. Em quase todas as matérias, nomeadamente as orçamentais, é preciso falar e negociar arduamente com “primos” e “tios”. Os dois ramos de “familiares” do governo têm grande poder – os “tios” representam a todo-poderosa Comissão Europeia e os compromissos que o governo Costa jurou respeitar mesmo antes de ter firmado o acordo com “os primos”. O PS nunca pôs em causa qualquer compromisso europeu, a começar pelo Tratado Orçamental e pela dívida. Os acordos com o PCP e o Bloco de Esquerda foram assinados neste pressuposto.

Mas “os primos” também detêm um poder enorme. O governo só existe porque BE e PCP deram, ambos, o respetivo aval. Um desacordo de qualquer um destes partidos pode deitar o governo abaixo. No caso da resolução do Banif, se não fosse o recurso a outros primos, agora afastados – os deputados do PSD –, o governo não teria conseguido levar a questão para a frente. Mas o governo não está a contar muito com a participação dos primos afastados em muitos mais assuntos que não passem pelo sistema bancário. É por isso que a manutenção de uma boa relação com “os primos” é prioritária para o governo. Mas, como em muitas famílias complexas, há desentendimentos: os “primos” Bloco de Esquerda e PCP têm entre si más relações. Ao que o i apurou, praticamente não se falam entre si. Toda a negociação é feita entre cada primo e o governo PS.

Vem aí uma medida que pode afetar a boa relação – até agora – entre governo e “primos”. O executivo não quer descongelar as carreiras da função pública, o que tem sido uma matéria fundamental para PCP e BE. As razões são, mais uma vez, orçamentais. Mas o descongelamento das carreiras da função pública tem sido uma questão de ponto de honra para a esquerda. Esta história não se sabe como termina.

ana.lopes@ionline.pt