“Socialista candidata, sou eu!”, reclamava Maria de Belém no domingo. Ontem, voltou à carga. “Era o que faltava que agora fosse mais importante apoiar independentes do que socialistas e que os socialistas tivessem que ficar para trás sem haver nenhuma razão para que isso aconteça”, disse em Bragança, numa disputa cada vez mais acessa com Sampaio da Nóvoa sobre qual dos dois tem afinal mais apoio do PS.
No tabuleiro das presidenciais, Nóvoa começou cedo a acumular trunfos. Desde que apareceu como candidato, não pára de somar apoios entre os socialistas. Nas suas hostes de apoiantes conta já com o presidente do partido, Carlos César, e com a secretária-geral adjunta Ana Catarina Mendes. Ou seja, o topo da estrutura partidária.
A jogada dos ministros Mas não é só: Nóvoa tem o apoio de cinco ministros, três dos quais com muito peso político e parte do núcleo duro de António Costa no Governo, como são Augusto Santos Silva, Vieira da Silva e Eduardo Cabrita.
O homem forte da distrital de Évora e ministro da Agricultura Capoulas Santos também está com Nóvoa. Já o quarto ministro a engrossar a lista de apoios tem uma particularidade interessante. Adalberto Campos Fernandes está na pasta que Maria de Belém teve no Governo de Guterres, a Saúde.
A Saúde é, curiosamente, uma das áreas em que Sampaio da Nóvoa tem mais cartas contra a sua adversária. O pai do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut, apoia a sua candidatura e o ex-ministro da Saúde socialista, Correia de Campos, é o seu mandatário nacional.
Sem dirigentes de topo no ativo nas estruturas socialistas, Maria de Belém tem mais peso quando se fala de históricos. O único ministro ao lado de Belém é João Soares. E os nomes mais sonantes que estão com a antiga ministra da Saúde são mesmo os de Manuel Alegre, Jorge Coelho – antigo homem forte do aparelho do PS -, Almeida Santos e Vera Jardim.
Falhou o apoio de António Guterres, que os apoiantes de Belém esperavam vir a público dizer que votará na sua ex-ministra, mas que acabou por não dizer em quem vai votar no domingo. “Não quero criar complicações adicionais”, justificou Guterres numa entrevista à RTP3.
Com os ex-Presidentes da República socialistas Mário Soares e Jorge Sampaio do seu lado, Sampaio da Nóvoa parece, porém, ter também as figuras históricas mais fortes. Parece, porque esse é um debate que ainda ontem se fez de forma muito intensa depois de Maria de Belém ter chamado a Almeida Santos “o maior de todos os socialistas vivos”. Para Alfredo Barroso, sobrinho de Mário Soares, essa foi uma “canalhice” que insulta “gratuitamente Mário Soares e todos os fundadores do PS vivos e mortos”.
Alfredo Barroso é apoiante de Marisa Matias, mas a forma como reagiu a Maria de Belém dá bem nota de como estão sensíveis as hostes socialistas quando o tema são os apoios nas presidenciais.
Há batota? Manuel Alegre e Vera Jardim usam mesmo a palavra “batota” para qualificar o cada vez mais notório apoio da máquina do PS na campanha de Sampaio da Nóvoa. Nas arruadas e nos comícios do candidato nota-se a mão da estrurura socialista e isso está a irritar quem quer ver Maria em Belém.
“Estou aqui sem batota, dando a minha cara e dizendo que apoio a Maria de Belém. O que não aceito é que se decida uma coisa e se faça o contrário, porque isso é uma falta de respeito pelo PS e por uma ex-presidente do PS. É tempo de chamar as coisas pelos seus nomes e não uso meias palavras”, atacou Alegre.
Vera Jardim fez críticas no mesmo sentido. “Estou confortável com a decisão tomada pelo secretário-geral, mas as decisões que se tomam são leis, são para se cumprir e eu não estou muito confortável com algumas coisas que se têm passado e que não reflectem exactamente o sentido da decisão do secretário-geral”, disse este fim-de-semana o porta-voz da candidata.
É que, se Ana Catarina Mendes – como já tinha feito António Costa na Comissão Política do PS – frisou que o mais importante é que haja “uma mobilização nesta campanha presidencial, porque para os socialistas não é indiferente um Presidente da República da área da direita ou um Presidente da República da área da esquerda”, a verdade é que a forma como as tropas socialistas se está a dividir beneficia claramente Sampaio da Nóvoa.
De resto, Carlos César admitia ainda ontem que há “uma tendência maior de apoio ao professor Sampaio da Nóvoa, mas isso faz parte da liberdade que os militantes e os dirigentes do Partido Socialista devem usar nesta fase deste processo”.
O apoio é, de resto, visível nas ações de campanha do candidato, como é visível no envolvimento do deputado do PS Pedro Delgado Alves – atual diretor de campanha de Nóvoa – e do antigo braço-direito de Costa na Câmara de Lisboa Duarte Cordeiro, que esteve também já à frente da candidatura.
Quando se contam deputados e eurodeputados de um e de ouro lado da barricada, Nóvoa continua à frente. Ascenso Simões, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Isabel Moreira, Edite Estrela (diretora do Jornal Ação Socialista), Jorge Lacão, Inês de Medeiros e a eurodeputada Ana Gomes estão ao lado de Nóvoa, numa lista que conta com outros nomes fortes no partido mesmo que fora do Parlamento, como João Cravinho e Vítor Ramalho.
No Parlamento, Maria de Belém tem certos os votos dos deputados Alberto Martins – seu mandatário distrital no Porto – e Eurico Brilhante Dias. Mas mais relevante é o apoio do eurodeputado Francisco Assis.
Se Assis é visto por alguns no partido como alguém que pode vir a protagonizar uma alternativa à liderança de Costa, Maria de Belém conta ainda com os apoios da ala ‘segurista’, com Álvaro Beleza à cabeça.
Mas esse é também um tema sensível para a socialista. Se é importante ter o maior número de apoios possível, também é verdade que a candidata não quer colada à oposição interna a Costa. “Chateia-me que digam que estou a apoiar uma candidatura da direita do PS e chateia-me mais que digam que sou um homem de facção. As duas coisas eu não aturo mesmo”, dizia Vera Jardim, na sexta, num almoço da campanha em Fafe.
Procurando não entrar na polémica, Nóvoa tem-se limitado a dizer que “todos os apoios são bem-vindos”.