Presidenciais. Descida do PCP pode afetar acordos à esquerda

Presidenciais. Descida do PCP pode afetar acordos à esquerda


Pedro Adão e Silva diz que diferença entre BE e PCP pode ser um “fator de enorme perturbação”


Nunca o PCP tinha ficado atrás do Bloco de Esquerda em eleições presidenciais. Os comunistas sofreram uma pesada derrota, enquanto o BE, depois de ter conseguido o melhor resultado de sempre nas legislativas, ficou em terceiro lugar com mais votos do que Edgar Silva e Maria de Belém juntos.

O Bloco ganha força, o PCP perde-a, pelo menos eleitoralmente. A dúvida é se os resultados eleitorais podem influenciar a estratégia dos dois partidos que apoiam o governo liderado por António Costa. O constitucionalista e ex-eurodeputado socialista Vital Moreira defende que “a enorme derrota do PCP, por sua vez, vai provavelmente causar abalos internos na liderança de Jerónimo de Sousa e levar os comunistas a acentuarem as suas reticências em relação ao governo do PS e a mostrar a sua força no terreno sindical e das lutas sociais”. O PCP, que perdeu mais de 120 mil votos em relação a 2011, tem congresso marcado para o fim deste ano e Vital alerta que “o perigo para o governo do PS não vai vir de Belém, mas sim dos parceiros de coligação”. Vital também acha que a subida do BE vai levar os bloquistas a “subir a parada no preço a obter pelo seu apoio ao governo PS”.

A diferença entre o BE e o PCP é significativa. Marisa Matias teve quase mais 290 mil votos do que Edgar Silva, ultrapassando os 10% enquanto o PCP não chegou aos 4%. Pedro Adão e Silva considera que “o péssimo resultado do candidato do PCP – é uma das votações mais baixas de sempre do partido em eleições de primeira ordem -, comparado com o ótimo resultado da candidata do BE é um fator de enorme perturbação ao equilíbrio da governação”. E acrescenta: “O PCP não deixará de fazer uma avaliação sobre esse resultado e não sabemos se essa avaliação vai no sentido de concluir que tem mesmo de participar na governação sob pena de perder eleitorado ou, pelo contrário, se conclui que na competição com o BE perderão sempre e, portanto, têm de se diferenciar. Isso vai estar em cima da mesa nos próximos tempos e não sabemos se o PCP não vai querer compensar esta perda eleitoral com o acentuar da contestação política na rua”.

Daniel Oliveira, comentador e ex-bloquista, também pensa que o resultado das presidenciais “reforça ainda mais a vantagem do BE em relação ao PCP e o seu peso relativo na maioria de esquerda, o que será um elemento de perturbação política, com os comunistas cada vez mais nervosos”.

Mais engraçadinha. O PCP admitiu que o resultado de Edgar Silva ficou “aquém do desejável” e a noite eleitoral ficou marcada por uma piada de Jerónimo de Sousa. “Podiamos arranjar um candidato ou uma candidata assim mais engraçadinha, enfim, em que fosse fácil, com um discurso ajeitadamente populista…”. Os bloquistas não gostaram, mas praticamente ignoraram a provocação. José Manuel Pureza prefere não comentar e diz apenas que a candidatura de Marisa Matias foi “politicamente forte”. Luís Claro