Guterres, afinal, não apoia ninguém à primeira volta

Guterres, afinal, não apoia ninguém à primeira volta


Belém não conta com o apoio expresso de Guterres à primeira volta. Se for eleita, levará os chefes de Estado estrangeiros a jantar em lares de idosos


Maria de Belém não vai contar com o apoio expresso de António Guterres, pelo menos na primeira volta. O ex-primeiro–ministro garantiu ontem em entrevista à RTP que não iria apoiar nenhum candidato nesta fase. Se houver segunda volta, Guterres admite manifestar apoio a um candidato, mas seguindo as orientações do PS. A direção deu liberdade de voto aos militantes na primeira volta, mas admitiu dar indicação de voto no caso de existir segunda.

Ontem, o “Diário Económico” avançava com a notícia do apoio de Guterres a Maria de Belém, que deveria ser anunciado nos próximos dias. A candidatura foi rápida a desmentir a notícia. É verdade que, entre os “belenenses”, o apoio de Guterres – expresso ou implícito – era dado como garantido. Mas o ex-primeiro-ministro desfez ontem as dúvidas sobre uma declaração de apoio a Belém. Com o apelido Guterres, a apoiar Belém, só Mariana – a filha mais nova do ex-primeiro-ministro, que está na lista de apoiantes da candidata.

Maria de Belém apresentou ontem as linhas gerais da campanha aos jornalistas e anunciou algo totalmente inédito. Se for eleita Presidente da República, levará os chefes de Estado estrangeiros em visita oficial a Portugal a almoçar e a jantar em instituições do tipo lares de idosos ou universidades. A candidata afirma que é importante que nas visitas oficiais, os dignitários estrangeiros conheçam o país em todas as suas faces. “Qualquer estadista europeu é capaz de ir comigo a um lar da terceira idade e comer o almoço que lá se serve”, afirmou a candidata durante um almoço no Hotel Vila Galé Ópera, junto ao Tejo.

Maria de Belém fez questão de insistir que a ideia de levar chefes de Estado estrangeiros de visita a Portugal a jantar em instituições era mesmo sua – e que esperava não a ver “copiada” por outros candidatos como, segundo disse, já aconteceu. Deu o exemplo da frase “o meu programa é a Constituição”, que afirma ter sido a primeira a dizer e que, entretanto, começou a ser usada por outros candidatos.

Não falará com Seguro

Maria de Belém, presidente do PS no tempo da liderança de António José Seguro, negou ser uma “candidata de fação” como é muitas vezes acusada.

“Nunca falei com António José Seguro e estou a dizer a verdade”, afirmou Belém, que contou que a reflexão sobre a sua candidatura se fez “num círculo restrito, com duas ou três pessoas”.

Sobre a eventual participação de António José Seguro na campanha, Maria de Belém afirmou que não faz “a mínima ideia” se o ex-secretário-geral que a convidou para presidente do PS “vai participar” e acrescentou que não tenciona falar com ele entretanto.

Maria de Belém reagiu também aos ataques à sua pessoa, nomeadamente pelo facto de ter trabalhado para o grupo Espírito Santo Saúde enquanto presidia à comissão parlamentar da Saúde. “Os ataques no domínio da ética deram origem a totalitarismos.” Na sequência de uma pergunta sobre os ataques feitos por Henrique Neto, respondeu: “Quem é exigente com a ética dos outros não é com a sua.” Reiterou que a sua postura teve sempre como foco o interesse público: “O interesse público norteou sempre a minha atuação.”

Prometeu que na campanha vai deixar de falar dos outros candidatos e concentrar-se exclusivamente na sua candidatura, “para evitar que digam que não tem ideias”. Reivindicou ter sido a primeira candidata a falar de “economia social”, verificando que agora “andam todos nas misericórdias a dar beijos às senhoras”.

Maria de Belém lembrou o seu currículo como ministra, deputada e alta funcionária do Estado. “Iniciei as Unidades de Saúde Familiar em Portugal.” Aliás, é associada de honra exatamente por causa disso. Invocou também o seu protagonismo na lei que atribui a nacionalidade portuguesa aos descendentes dos judeus sefarditas e ainda o seu papel na aprovação na lei da procriação medicamente assistida.

Ao lado de Maria de Belém estava o seu mandatário para a juventude, Bruno Matias, presidente da Associação Académica de Coimbra. Maria de Belém apresentou o seu mandatário e falou das suas ligações a Coimbra, onde estudou durante a crise de 1969 – quando era presidente da Associação Académica de Coimbra um dos seus “notáveis” apoiantes: o deputado Alberto Martins, que faz parte da comissão política da candidata.

Maria de Belém vai agora para a estrada, numa volta por todo o país, para passar a mensagem presidencial. Inicia simbolicamente a campanha na casa-museu José Relvas, em Alpiarça, homenageando assim um dos fundadores da República.

com Manuel Agostinho Magalhães