Blatter, um símbolo da venalidade


Com uma criatura assim à frente da FIFA, como não se duvidar da própria essência do futebol?


Se por oposição a Mandela enquanto personificação da bondade, da ética e da integridade, se tivesse de escolher alguém que ilustrasse a venalidade, possivelmente a corrupção e a falta de transparência, um nome indicado seria provavelmente o de Sepp Blatter.

E, apesar de tudo, é hoje certo que eles, diretamente ou por pessoas interpostas, terão acertado a forma de levar à África do Sul um Mundial de futebol que revelou ser dos piores de sempre no campo desportivo.

Já não foi Mandela quem verdadeiramente conduziu o processo. Foram os seus controversos e duvidosos discípulos. E certamente por isso, ao contrário do que aconteceu com o Mundial de râguebi, o de futebol na África do Sul foi conseguido à conta de manobras que envolveram dirigentes da modalidade e, portanto, Blatter enquanto chefe máximo, que não podia deixar de saber os mecanismos de convencimento usados.

O futebol é uma das maiores indústrias do mundo, tem regras e suposta justiça própria, e teve à sua frente essa pequena criatura que remete inevitavelmente para o repugnante patrão do estúpido Homer Simpson, Charles Montgomery Burns.

Blatter personifica na sua imagem (a prática logo se verá através dos tribunais, desde que não sejam os do desporto) a trapaça com pernas, o arranjo e a combinação. Ao ponto de ter subido usando João Havelange (que não era santo), que depois abandonou miseravelmente.

O seu tempo fica marcado pelo despotismo, o arranjismo, a arrogância, a presunção, os Platinis de que se rodeou e que infestaram as organizações futebolísticas. Há muita gente inenarrável que habita o planeta da bola onde, verdade se diga, mesmo assim ainda se encontram pessoas honestas e honradas, nomeadamente ao nível dos atletas, treinadores e dirigentes carolas em muitos clubes de grande ou pequena nomeada.

A ridícula criatura Blatter que um dia subiu a um palco para amesquinhar Ronaldo é venal (está agora provado pela própria FIFA que, para manter um mínimo de credibilidade, o suspendeu juntamente com o seu comparsa Platini). Ao longo do seu consulado montou uma teia composta, em parte, de gente do mesmo calibre para fazer o que os interesses do dinheiro, da política ou da vaidade comandaram.

À sua faceta de trafulha, Blatter junta a circunstância de ser natural da Suíça, um país neutral que se serve das desgraças dos outros para enriquecer e que, tirando Guilherme Tell, o calvinismo, a Cruz Vermelha e alguns queijos e chocolates, nada de muito relevante trouxe à humanidade. Basta ver que algumas organizações que lá têm sede escolheram o país exatamente pelos mesmos motivos que a FIFA: tornarem-se o mais opacas possível em todos os campos. Isto para não falar da banca e das seguradoras lá do sítio.

Venha o primeiro ingénuo que acredite que o Mundial de 2018 na Rússia foi escolhido sem “incentivos” de toda a espécie. Mesmo assim, é aceitável dada a dimensão do país e o facto de ter tradição no desporto dito rei. Mas o Qatar? Com mais de 50 graus no verão? Não lembra a ninguém. E muito menos lembra a ideia peregrina de que esse tal Mundial poderia perfeitamente ser disputado algures entre Dezembro e Janeiro para fugir ao calor, interrompendo os campeonatos europeus quase dois meses e impedindo os boxing day. Que dinheiro tem de circular para conseguir isso? Quantos mil milhões de euros vão ser pagos para obter esse desiderato? Muitos, claro. Se, por cá, alguns estádios do 2004 nunca encheram, imagine-se os de lá. Vá lá que do lado financeiro não haverá problema, pelo menos enquanto houver petróleo.

Dir-se-á que a FIFA e Blatter não são fatalmente piores do que muitas outras coisas, outras organizações mundiais e alguns governantes de países com assento na ONU. Talvez. Mas são altamente simbólicos porque envolvem a maior modalidade desportiva planetária. A própria existência da FIFA, com todo o seu poder corporativo, é inaceitável sem fiscalização judicial e criminal. Foi preciso a implacável e livre justiça americana desencadear a ofensiva para a fazer tremer e começar a reformar-se. Ainda bem.

O escândalo da FIFA põe em causa a essência do futebol em todos os seus aspetos. Só através de uma enorme revolução, a todos os níveis, da prática e da regulamentação deste desporto magnífico é que se poderá voltar a confiar na verdade desportiva.

Nos Estados Unidos há regras claras para dar oportunidades a todos os clubes nas diversas ligas de vários desportos. Em Inglaterra, a cultura faz com que o futebol seja mais “fair”, e há o exemplo do râguebi que, não estando isento de pecado, tem regras e métodos claros e não está entregue a uma camarilha arranjista que engorda à conta de milhões de fãs ingénuos. Basta seguir alguns desses exemplos.

Jornalista


Blatter, um símbolo da venalidade


Com uma criatura assim à frente da FIFA, como não se duvidar da própria essência do futebol?


Se por oposição a Mandela enquanto personificação da bondade, da ética e da integridade, se tivesse de escolher alguém que ilustrasse a venalidade, possivelmente a corrupção e a falta de transparência, um nome indicado seria provavelmente o de Sepp Blatter.

E, apesar de tudo, é hoje certo que eles, diretamente ou por pessoas interpostas, terão acertado a forma de levar à África do Sul um Mundial de futebol que revelou ser dos piores de sempre no campo desportivo.

Já não foi Mandela quem verdadeiramente conduziu o processo. Foram os seus controversos e duvidosos discípulos. E certamente por isso, ao contrário do que aconteceu com o Mundial de râguebi, o de futebol na África do Sul foi conseguido à conta de manobras que envolveram dirigentes da modalidade e, portanto, Blatter enquanto chefe máximo, que não podia deixar de saber os mecanismos de convencimento usados.

O futebol é uma das maiores indústrias do mundo, tem regras e suposta justiça própria, e teve à sua frente essa pequena criatura que remete inevitavelmente para o repugnante patrão do estúpido Homer Simpson, Charles Montgomery Burns.

Blatter personifica na sua imagem (a prática logo se verá através dos tribunais, desde que não sejam os do desporto) a trapaça com pernas, o arranjo e a combinação. Ao ponto de ter subido usando João Havelange (que não era santo), que depois abandonou miseravelmente.

O seu tempo fica marcado pelo despotismo, o arranjismo, a arrogância, a presunção, os Platinis de que se rodeou e que infestaram as organizações futebolísticas. Há muita gente inenarrável que habita o planeta da bola onde, verdade se diga, mesmo assim ainda se encontram pessoas honestas e honradas, nomeadamente ao nível dos atletas, treinadores e dirigentes carolas em muitos clubes de grande ou pequena nomeada.

A ridícula criatura Blatter que um dia subiu a um palco para amesquinhar Ronaldo é venal (está agora provado pela própria FIFA que, para manter um mínimo de credibilidade, o suspendeu juntamente com o seu comparsa Platini). Ao longo do seu consulado montou uma teia composta, em parte, de gente do mesmo calibre para fazer o que os interesses do dinheiro, da política ou da vaidade comandaram.

À sua faceta de trafulha, Blatter junta a circunstância de ser natural da Suíça, um país neutral que se serve das desgraças dos outros para enriquecer e que, tirando Guilherme Tell, o calvinismo, a Cruz Vermelha e alguns queijos e chocolates, nada de muito relevante trouxe à humanidade. Basta ver que algumas organizações que lá têm sede escolheram o país exatamente pelos mesmos motivos que a FIFA: tornarem-se o mais opacas possível em todos os campos. Isto para não falar da banca e das seguradoras lá do sítio.

Venha o primeiro ingénuo que acredite que o Mundial de 2018 na Rússia foi escolhido sem “incentivos” de toda a espécie. Mesmo assim, é aceitável dada a dimensão do país e o facto de ter tradição no desporto dito rei. Mas o Qatar? Com mais de 50 graus no verão? Não lembra a ninguém. E muito menos lembra a ideia peregrina de que esse tal Mundial poderia perfeitamente ser disputado algures entre Dezembro e Janeiro para fugir ao calor, interrompendo os campeonatos europeus quase dois meses e impedindo os boxing day. Que dinheiro tem de circular para conseguir isso? Quantos mil milhões de euros vão ser pagos para obter esse desiderato? Muitos, claro. Se, por cá, alguns estádios do 2004 nunca encheram, imagine-se os de lá. Vá lá que do lado financeiro não haverá problema, pelo menos enquanto houver petróleo.

Dir-se-á que a FIFA e Blatter não são fatalmente piores do que muitas outras coisas, outras organizações mundiais e alguns governantes de países com assento na ONU. Talvez. Mas são altamente simbólicos porque envolvem a maior modalidade desportiva planetária. A própria existência da FIFA, com todo o seu poder corporativo, é inaceitável sem fiscalização judicial e criminal. Foi preciso a implacável e livre justiça americana desencadear a ofensiva para a fazer tremer e começar a reformar-se. Ainda bem.

O escândalo da FIFA põe em causa a essência do futebol em todos os seus aspetos. Só através de uma enorme revolução, a todos os níveis, da prática e da regulamentação deste desporto magnífico é que se poderá voltar a confiar na verdade desportiva.

Nos Estados Unidos há regras claras para dar oportunidades a todos os clubes nas diversas ligas de vários desportos. Em Inglaterra, a cultura faz com que o futebol seja mais “fair”, e há o exemplo do râguebi que, não estando isento de pecado, tem regras e métodos claros e não está entregue a uma camarilha arranjista que engorda à conta de milhões de fãs ingénuos. Basta seguir alguns desses exemplos.

Jornalista