Os falsos argumentos do pós-feminismo


De vez em quando soam os ecos das teses sobre a “crise da masculinidade”, releituras ou descobertas de “The End of Men”, de Hanna Rosin, e de outros discursos que se anunciam pós-feministas.


 Tais argumentos expõem, embora com enviesamentos duvidosos, alguns traços da sociedade contemporânea: o aumento da população feminina qualificada e altamente qualificada, a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho e o respectivo investimento nas carreiras profissionais e na vida pública em geral. É sugerido, no fundo, que o mundo é agora dominado por mulheres e que o poder masculino está em crise…

Incomoda-me o modo acrítico como esta linha de pensamento vem sendo difundida. Alimenta a ignorância sobre a feminização de fenómenos como a pobreza, o desemprego e a precariedade laboral. Menospreza o elevado número de mulheres que, embora exercendo as mesmas funções que os colegas, auferem remunerações inferiores; a ilegalidade e a imoralidade a que estão sujeitas as trabalhadoras que são dispensadas quando engravidam; as longas jornadas laborais que muitas mulheres diariamente acumulam com trabalho não pago; o baixo número de mulheres que tem voz efectiva nas decisões empresariais, económicas, financeiras e políticas.

Essa argumentação oculta ainda as expressões várias e persistentes da violência de género. Sugere, no mesmo timbre, uma visão essencialista, hegemónica, de masculinidade que não se cola à identidade de muitos homens. Desvia-se do reconhecimento da igualdade enquanto valor fundamental. Talvez sirva de entretenimento, mas não pode colher crédito.
Professora no Instituto Superior de Economia e Gestão – U. Lisboa. Escreve à quarta-feira

Os falsos argumentos do pós-feminismo


De vez em quando soam os ecos das teses sobre a “crise da masculinidade”, releituras ou descobertas de “The End of Men”, de Hanna Rosin, e de outros discursos que se anunciam pós-feministas.


 Tais argumentos expõem, embora com enviesamentos duvidosos, alguns traços da sociedade contemporânea: o aumento da população feminina qualificada e altamente qualificada, a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho e o respectivo investimento nas carreiras profissionais e na vida pública em geral. É sugerido, no fundo, que o mundo é agora dominado por mulheres e que o poder masculino está em crise…

Incomoda-me o modo acrítico como esta linha de pensamento vem sendo difundida. Alimenta a ignorância sobre a feminização de fenómenos como a pobreza, o desemprego e a precariedade laboral. Menospreza o elevado número de mulheres que, embora exercendo as mesmas funções que os colegas, auferem remunerações inferiores; a ilegalidade e a imoralidade a que estão sujeitas as trabalhadoras que são dispensadas quando engravidam; as longas jornadas laborais que muitas mulheres diariamente acumulam com trabalho não pago; o baixo número de mulheres que tem voz efectiva nas decisões empresariais, económicas, financeiras e políticas.

Essa argumentação oculta ainda as expressões várias e persistentes da violência de género. Sugere, no mesmo timbre, uma visão essencialista, hegemónica, de masculinidade que não se cola à identidade de muitos homens. Desvia-se do reconhecimento da igualdade enquanto valor fundamental. Talvez sirva de entretenimento, mas não pode colher crédito.
Professora no Instituto Superior de Economia e Gestão – U. Lisboa. Escreve à quarta-feira