António Costa deu ontem resposta às clarificações pedidas pelo Presidente da República sobre as condições de governabilidade à esquerda, numa carta enviada ao fim da tarde para o Palácio de Belém onde abordou cada um dos seis pontos, repetindo algumas das garantias já dadas publicamente nos últimos dias. De manhã, Cavaco Silva tinha chamado o líder do PSpara o encarregar de “desenvolver esforços tendo em vista apresentar uma solução governativa”.
{relacionados}
Mas Cavaco Silva não tinha ficado por aí, exigindo a António Costa responsabilização pelo que diz não ver no acordo. Aliás, em nota divulgada na página oficial da Presidência da República depois da reunião entre Presidente e líder do PS, Cavaco Silva fez saber que tinha pedido a Costa “a clarificação formal de questões que, estando omissas nos documentos, distintos e assimétricos, subscritos entre PS, BE, PCP e PEV, suscitam dúvidas quanto à estabilidade e à durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista, no horizonte temporal da legislatura”.
Já António Costa deu ordem para não ser divulgada publicamente a resposta enviada a Belém, que o próprio esteve a redigir ontem durante a tarde. O líder socialista não terá dado garantias adicionais ao que já dissera publicamente sobre os pontos questionados pelo chefe de Estado. Afinal muitas destas questões já tinham sido referidas pelo Presidente noutras circunstâncias.
Em síntese, Cavaco Silva quer que Costa ponha por escrito (e assine por baixo) as suas próprias garantias de que o casamento das esquerdas é à prova de moções de confiança, que permite aprovar Orçamentos do Estado, que vai cumprir regras europeias e acordos internacionais de defesa e que não vai alienar parte da Concertação Social nem chocar de frente com o sistema financeiro.
Pouco antes de a carta sair da sede do PS, Mário Centeno dizia à porta que as “garantias estarão seguramente ancoradas nos textos que foram aprovados e no programa de governo”. Carlos César também disse, em declarações ao “Expresso” durante a tarde, que o PS“reafirmará formalmente o que já tem dito noutras ocasiões”.
Esquerda divide-se A reacção não foi sequer semelhante em toda a esquerda. No PCP, o secretário-geral marcou uma declaração à tarde para atacar o Presidente e a “nova tentativa para, em confronto com a Constituição, salvar PSDe CDS”. Jerónimo de Sousa disse mais: “Terá, da parte dos trabalhadores e do povo, a resposta democrática que lhe corresponda.” Para os comunistas, o chefe de Estado “assume assim todas as responsabilidades e consequências políticas e institucionais por decisões que contribuam para degradar a situação nacional e pro-mover o afrontamento entre órgãos de soberania”. Uma posição extremada que teve paralelo nos Verdes que também viram no pedido de clarificação de Cavaco “um claro confronto com a vontade de mudança expressa pelos portugueses nas urnas”.
Já o Bloco de Esquerda foi bem mais comedido na reacção, que tornou pública através de comunicado. “O BE regista o recuo do Presidente da República quanto à sua objecção à formação de um governo do Partido Socialista viabilizado pelos partidos à sua esquerda no parlamento.” Os bloquistas foram breves nas palavras e apenas remataram dizendo aguardar o “desenvolvimento de contactos” entre PR e PS “e os passos para uma rápida indigitação do novo primeiro-ministro”.