Porque “nada em especial” é quase sempre a realidade. Por isso, é fácil atirar umas gargalhadas meio irónicas ao ver “Da Natureza”. Rimo–nos dos dilemas dos outros e pensamos “isto não tem piada nenhuma”. A história é a de Martin, que até queria ir beber um copo com os colegas de trabalho, mas está dividido entre os deveres domésticos e uma crónica dificuldade em ser social; o tipo que só queria dar uma bem dada, mas há o trabalho e o miúdo e o jantar e depois é tarde e agora não porque enfim, não dá; o pai que gosta do filho, claro que gosta, mas não consegue dizê-lo, não sabe brincar, não dá para ocupar o lugar de melhor amigo, é difícil demais. Martin está de mal com tudo e só quer fugir para o campo, passar lá o fim-de-semana.
Só no meio do mato é que está bem, o que não quer dizer que não continue a exercitar a sua mania de sobrepensamento (e que não aconteçam imprevistos). Nada é simples na cabeça de Martin, absolutamente nada, e é isso que torna o filme tão cativante, o exagero nervoso do protagonista em contraste com a ausência de alarido visual. Isso e a oportunidade que “Da Natureza” dá de estarmos no meio dos nórdicos que, como todos os outros, são gente estranha, longe da perfeição que de vez em quando é apregoada por quem os vê à distância.