Seis cirurgiões de uma clínica de Cleveland, cidade norte-americana do estado do Ohio, estão numa corrida contra o tempo para conseguirem, nos próximos seis meses, ser os primeiros nos Estados Unidos a completar com êxito um transplante de útero. O objectivo é depois implantar o órgão numa mulher que, por ter nascido sem útero ou por sofrer de algum tipo de doença uterina, não consegue engravidar e ajudá-la a levar uma gestação até ao fim.
A delicada cirurgia, que até hoje só foi completada com êxito na Suécia, é vista como uma alternativa potencial para mulheres estéreis por terem nascido sem útero, por o terem retirado em histerectomias ou por terem um útero que não é saudável. A gravidez dá-se através de inseminação artificial, um ano depois do transplante, o tempo mínimo necessário para averiguar se existe risco de rejeição.
A ideia é que o transplante, feito com órgãos retirados de cadáveres de dadoras, seja temporário. Ou seja, depois de a mulher ter um ou dois filhos, o útero é em última instância removido.
Apesar de trazer esperança a milhares de mulheres que se vêem impossibilitadas de engravidar, existem riscos inerentes ao processo. Uma gravidez com um útero implantado é de alto risco, principalmente devido à medicação que a grávida tem de tomar para que o seu corpo não rejeite o útero. O feto fica assim inevitavelmente exposto a essa medicação.
Andreas Tzakis, um dos especialistas que integram este projecto, garante que a medicação em questão é segura e que milhares de mulheres que a tomaram durante a gravidez por terem recebido outros órgãos foram mães de bebés saudáveis.
Neste momento, já há oito americanas a ser sujeitas aos primeiros processos de rastreio. Nesses processos, os médicos avaliam se as candidatas reúnem as condições obrigatórias para participar na experiência. É exigido que essas mulheres estejam numa relação amorosa estável, tenham ovários e queiram fazer a cirurgia por vontade própria e não por pressão de outros.
Andreas Tzakis avança que todas as mulheres foram devidamente informadas dos riscos e dos benefícios do transplante, que numa fase inicial será feito dez vezes para que depois possam ser avaliados os resultados.
Até hoje o único país a ter sucesso no transplante de úteros foi a Suécia, num caso que recua a Setembro de 2014, na Universidade de Gotemburgo. De todos os transplantes de útero já realizados, os bebés nasceram saudáveis mas prematuros e dois desses transplantes falharam mesmo antes da tentativa de engravidar. A Turquia e a Arábia Saudita também já tentaram executar este procedimento cirúrgico, mas sem sucesso.
A par dos cirurgiões de Cleveland, também França quer começar a fazer transplantes de útero a partir de 2016, isto depois de o Hospital Universitário de Limoges ter recebido este mês autorização da Agência de Segurança Sanitária do Medicamento e dos Produtos de Saúde de França para essas cirurgias.