A hora tardia da estreia – 3h30 de segunda-feira – justifica-se por acontecer em simultâneo com os Estados Unidos. Ainda assim, quem não quiser perder o primeiro episódio de “Into The Badlands”, pode ver a repetição no mesmo canal do cabo, no mesmo dia às 23h15. A nova série de acção e artes marciais do AMC narra a saga de Sunny (Daniel Wu), o guerreiro mais mortal de Badlands, uma região governada por sete barões rivais que, num futuro longínquo e inóspito, controlam os recursos necessários à sobrevivência dos seus habitantes. Para isso contam com o apoio de exércitos conhecidos como Clippers. Sunny é um deles e goza de um estatuto especial: é o homem de confiança de Quinn (Marton Csokas), durante muito tempo o mais poderoso dos barões da região. No entanto, a sua vida começa a mudar quando conhece um misterioso jovem M. K (Aramis Knight).
“Ele vê no M. K uma certa inocência que ele próprio parece ter perdido. Talvez ainda esteja dentro dele mas foi sendo abafada ao longo dos anos, enquanto ele se transformava num assassino impiedoso. De certa forma esse encontro cria nele o desejo de mudar”, explica o actor.
A par da prometida acção, das artes marciais e de cenas sangrentas, ao longo dos seis episódios de “Into The Badlands” pode esperar-se uma evolução das personagens, que se vão revelando gradualmente mais complexas. Foi aliás isso que atraiu o actor para o papel. “Nunca tinha feito televisão e quis assegurar-me de que a personagem tinha algo em que pudesse trabalhar durante toda a série, que fosse mudando. Queria que houvesse um lugar para onde o Sunny se pudesse dirigir, e foi isso que de facto me interessou na personagem.”
As artes marciais são um dos pontos fortes das cenas e da acção da série e Daniel Wu é um executante exímio. Tinha 11 anos quando começou a treinar, em boa parte por influência do filme “O Templo de Shaolin” e de Jet Li. “Sendo uma criança filha de pais chineses a crescer nos Estados Unidos não tinha muitos ídolos que pudesse admirar, então quando olhava para o Bruce Lee, o Jet Li e o Jackie Chan, três chineses que estavam no grande ecrã, achava quase que eram heróis. Quando vi o Jet Li no ‘Templo de Shaolin’ fiquei maravilhado com todo aquele kung-fu e decidi que tinha de aprender aquilo”, recorda.
Golpes Daniel Wu continua a praticar essas modalidades e traz esses conhecimentos para o set, mas com alguns limites, que impedem que alguém se magoe a sério. Tirando isso, é sempre ele que dá o corpo ao manifesto. “Se concebemos uma cena de luta fazemo--lo incluindo movimentos que eu seja capaz de fazer. Isso faz parte do estilo de Hong Kong que tentámos trazer para a série, em que vemos os protagonistas fazerem as suas cenas de luta, e não um duplo, e isso é mais excitante para o público.”
Talvez por isso, há quem descreva a série como uma mistura entre “Kill Bill” e “O Tigre e o Dragão”. Influências que o actor não rejeita, até porque “Into The Badlands” conta com os contributos de produtores de “Pulp Fiction” e de “Django Unchained”. À equipa de produção, em que Daniel Wu também se inclui, juntam-se os criadores de “Smallville”. Uma mistura de géneros e influências que, segundo Wu, também tornou o projecto “muito divertido”.
Apesar de o treino de artes marciais ser uma mais-valia para o papel que desempenha, não foram elas que lhe abriram as portas da carreira de actor. “São duas coisa separadas, que acabaram por se juntar mais tarde”, afirma, assumindo mesmo que nunca tinha planeado enveredar pela área da representação. “Estudei Arquitectura na universidade e sempre adorei a criatividade, mas não era muito bom a expressá-la, fosse verbalmente fosse através de algum tipo de actuação. Então desenhava muito.”
Percurso Quando se licenciou, em 1997, foi a Hong Kong – cidade à qual continua ligado também profissionalmente – em plena passagem da soberania para a China. Foi já regressado aos Estados Unidos que o convidaram para participar num anúncio de televisão. Essa primeira experiência causou boa impressão no realizador Yonfan, que o convidou para entrar no seu filme “Bishonen” (1998). Arriscou, sem muitas certezas, e acabou por se apaixonar por um projecto que não podia estar mais distante de um filme sobre artes marciais. “Era uma história romântica e achei que daí para a frente poderia ser sempre convidado para aquele tipo de filmes.”
Foram precisos cerca de três anos para que os seus conhecimentos de artes marciais começassem a ser notados e requisitados e para que os filmes de acção passassem a fazer parte da vida de Daniel Wu. Há por isso muita coisa que o actor ainda quer fazer na área da representação, e para já há um género de se destaca na lista entre os que gostava de juntar ao currículo.
“Adoro comédias negras e adorava fazer um filme nesse registo.” O único que realizou, em 2006, “Sei dai tinwong”, é precisamente uma sátira sobre um grupo musical popular na região, chamado Alive. “Queria explorar mais essa vertente, porque é uma faceta minha que muita gente não conhece. Gosto muito de comédia.” Mas para já é nos golpes de kung-fu que o vemos ver.