António Campos lembra “sótão de Guterres” e diz que Costa beneficia com a oposição interna

António Campos lembra “sótão de Guterres” e diz que Costa beneficia com a oposição interna


“Dirigi durante uma dúzia de anos o Partido Socialista e nós tínhamos um carinho especial pelo sótão do Guterres.”


O fundador do PS António Campos disse esta sexta-feira que António Costa sairá beneficiado se tiver oposição interna e lembra os tempos do "sótão de Guterres" que a direcção socialista de Mário Soares via com "carinho especial".

"Dirigi durante uma dúzia de anos o Partido Socialista e nós tínhamos um carinho especial pelo sótão do Guterres, que nos criava oposição", disse António Campos à agência Lusa, em Coimbra, lembrando a oposição a Mário Soares, no início dos anos 80, por personalidades como António Guterres, Jorge Sampaio, Salgado Zenha ou António Arnaut.

Em declarações à margem de uma iniciativa do candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa e questionado sobre o jantar de militantes socialistas, agendado para hoje, na Mealhada, que contesta o acordo de governação à esquerda, António Campos lembrou que o PS "nunca teve unanimidade em qualquer decisão que seja fracturante".

"O partido é um partido plural, é o grande partido da liberdade e o [líder socialista] António Costa só beneficia se tiver oposição", frisou.

"Porque para se ser um grande líder num partido tem primeiro que ganhar batalhas internas e depois é que se está em condições de ganhar batalhas externas. O Soares fez sempre isso, nunca aceitou nenhum congresso onde não houvesse oposição", disse.

António Campos disse ainda que é normal que no Partido Socialista existam “várias tendências e várias formas de pensar. Não há unanimidade, no dia em que houver unanimidade eu saio”.

Já António Arnaut, outro histórico socialista, precisamente um dos elementos que integraram o "grupo do sótão" de António Guterres, disse ver "com naturalidade, as reações adversas" a um acordo de governação com os partidos de esquerda.

"Eu próprio já estive num governo com o CDS, em 78, e nessa altura também se levantaram vozes contundentes, mas isso é natural. Se o Partido Socialista estivesse, nesta altura, a negociar com o PSD, depois de ter dito, com fundamento, que o PSD destruiu o Estado social, havia certamente mais vozes, incluindo a minha, que se levantavam contra essa possibilidade", argumentou.

Lusa