Xeque-mate?


No passado 5 de Outubro aqui escrevi: “A maioria dos votos foi deslocada para a esquerda, que é uma família política grande, historicamente desavinda, mas que se tolera cordialmente em funerais e baptizados.”


 Entretanto passou rapidamente um mês ruidoso, naturalmente emotivo, e da direita só veio pânico, sem massa crítica digna de nota. À excepção da enorme alegria de voltar a discutir-se política, e só por isso valeu a pena o sobressalto, houve muita parra e pouca uva perante esta coisa patética e sem glória de vermos um féretro a arrastar a carcaça pelo eixo Belém-S. Bento. Para a direita, este seu enorme pesadelo é culpa de um sistema político “perverso” em que os governos são suportados por maiorias parlamentares e, considerando ela haver partidos que “não podem governar”, a democracia está mal feita e ponto final. É o vazio pleno. O centro esvaiu-se. Por outro lado, António Costa abriu, e muito bem, uma porta decisiva que calou fundo, e que depois, para lá das habituais ciumeiras intestinas, gerou este fogaréu mediático que nos é dado pelo quarto poder. 

Agora trata-se do óbvio, de uma solução à esquerda, vinda da maioria que representa quem, a 4 de Outubro, não quis mais do mesmo. Mas, sobretudo em política, aquilo que é óbvio pode ser o mais difícil de alcançar. É quando a citada cordialidade familiar se obriga a ser algo mais do que isso e ganha o dever de se superar a si própria em determinado momento histórico. A boa diplomacia, com todo o seu ritual de exigência e recato, é exactamente para isso que serve. Cumpra-se, é isso que se espera. 
Escreve ao sábado 

Xeque-mate?


No passado 5 de Outubro aqui escrevi: “A maioria dos votos foi deslocada para a esquerda, que é uma família política grande, historicamente desavinda, mas que se tolera cordialmente em funerais e baptizados.”


 Entretanto passou rapidamente um mês ruidoso, naturalmente emotivo, e da direita só veio pânico, sem massa crítica digna de nota. À excepção da enorme alegria de voltar a discutir-se política, e só por isso valeu a pena o sobressalto, houve muita parra e pouca uva perante esta coisa patética e sem glória de vermos um féretro a arrastar a carcaça pelo eixo Belém-S. Bento. Para a direita, este seu enorme pesadelo é culpa de um sistema político “perverso” em que os governos são suportados por maiorias parlamentares e, considerando ela haver partidos que “não podem governar”, a democracia está mal feita e ponto final. É o vazio pleno. O centro esvaiu-se. Por outro lado, António Costa abriu, e muito bem, uma porta decisiva que calou fundo, e que depois, para lá das habituais ciumeiras intestinas, gerou este fogaréu mediático que nos é dado pelo quarto poder. 

Agora trata-se do óbvio, de uma solução à esquerda, vinda da maioria que representa quem, a 4 de Outubro, não quis mais do mesmo. Mas, sobretudo em política, aquilo que é óbvio pode ser o mais difícil de alcançar. É quando a citada cordialidade familiar se obriga a ser algo mais do que isso e ganha o dever de se superar a si própria em determinado momento histórico. A boa diplomacia, com todo o seu ritual de exigência e recato, é exactamente para isso que serve. Cumpra-se, é isso que se espera. 
Escreve ao sábado