Ainda que no programa de governo apresentado por PSD/CDS já surjam algumas brechas na violenta estratégia ideológica a que sujeitaram o país, o PS e os partidos à sua esquerda chegaram a um entendimento programático que poucos consideravam possível.
Este entendimento fez com que, no último mês, a charneira da política portuguesa tenha inflectido à esquerda. Os limites das políticas tidas como possíveis foram arrasados, demonstrando-se que essas barreiras eram um pretexto e não uma condição.
Ora, se é saudável festejar a queda deste governo importa não perder tempo a celebrar um futuro que ainda está por construir. Patrocinar uma escalada de esperanças no futuro governo de António Costa só favorece a direita.
Não será difícil de prever que, depois da surpresa e da histeria anticomunista, as forças reaccionárias (faz todo o sentido recuperar o termo até porque os seus argumentos não evoluíram muitos nos últimos 40 anos) se alinharão para combater políticas progressistas (outro termo a recuperar). Fá-lo-ão com os seus meios, que são muito menos visíveis que manifestações mas, tantas vezes, mais poderosos.
Para a esquerda este não deve ser um momento de ilusão mas de trabalho. Disputando o poder mediático e o poder financeiro, estimulando a cultura política e o associativismo de base local, promovendo a descentralização do Estado desde as suas instituições ao espaço de acção para as iniciativas cidadãs. Recuperando a democracia e a soberania, redesenhando o território e reconstruindo um movimento popular forte, construtivo e emancipador.
Escreve à segunda-feira