“Profissionais da Crise” acompanha uma especialista americana em marketing político enquanto ajuda um boliviano a ganhar as eleições, uma adaptação de uma história verdadeira. “O Senhor Manglehorn” mostra Al Pacino na pele de um homem que procurar recuperar a vida e o amor perdidos depois de um crime. E “Red Oaks” é uma nova série da Amazon que regressa a New Jersey nos anos 80. Diz-nos que são todas “histórias americanas”, que nunca passam do prazo de validade. É uma das presenças especiais no Lisbon & Estoril FilmFestival e por lá vai ter todos os seus filmes.Respondeu-nos a algumas perguntas por email, entre viagens.
Porque decidiu realizar “Profissionais da Crise”?
Comecei pelo mais óbvio, ler o argumento.E fui completamente absorvido pela história. O balanço entre drama e humor do enredo era perfeito. E pouco depois conheci a Sandra Bullock, que estava muito entusiasmada com a personagem principal do filme, a Calamity. O que ela queria fazer era exactamente o que tinha imaginado, tudo batia certo.Além disso, sempre me intrigou muito tudo o que rodeia a política na América Latina, que é algo único e fascinante.
Não é coincidência que este filme esteja neste momento preciso a chegar a diferentes países, pois não?
Claro que não é coincidência.Queríamos muito que, de alguma maneira, se intrometesse nos diálogos políticos que acontecem actualmente pelo mundo.
Por exemplo, sobre as eleições americanas, muito do que tem chegado ao lado de cá tem a ver com manobras de bastidores e quem apoia que candidatura com que dinheiro.
Exacto, e esses temas são os mesmos que discutimos nos Estados Unidos. Muito do que acontece nos bastidores da política ou de qualquer grande negócio – já que, em certa medida, as duas coisas são geridas da mesma maneira –, muito de tudo isso é extremamente fascinante. É difícil perceber quem está a ser manipulado, se são os candidatos, se somos nós que vamos votar, ou se é qualquer outra entidade. Além disso, este filme parte de uma história real que já foi contada há uns anos num documentário. Ou seja, isto é tudo verdade, é assim que o marketing político funciona na América, não há como disfarçar.
Um dos produtores do filme foi George Clooney. O que pode mudar ou ser eventualmente mais fácil com alguém tão popular na equipa de produção?
O George é um colaborador fantástico, tem uma noção perfeita de como funciona o negócio do cinema e de toda a diplomacia que é necessária para colocar a máquina em funcionamento. Se torna as coisas mais fáceis por ser quem é? Talvez, não digo que não, mas tenho a certeza de que o que consegue é com trabalho. Ele tem o seu poder, a sua influência, e é óptimo poder contar com isso, claro que sim. Etem muito interesse por questões políticas, o que neste caso foi muito importante.
Sandra Bullock é o nome principal do elenco. Como foi trabalhar com ela?
Além de tudo o resto, a Sandra transformou-se numa grande amiga. Trabalhar com ela é um gozo, espero que volte a acontecer em breve. E fiquei surpreendido ao perceber como ela trabalha. Posso dizê-lo à vontade: foi a pessoa que mais trabalhou em toda a equipa, de longe.
E Joaquim de Almeida?
Adoro o Joaquim, sou fã do trabalho dele há muito tempo. O que torna ainda mais engraçado o início de todo este processo. Tenho ideia de que ele, no princípio, não gostava muito de mim. Porque eu pedia–lhe para ele fazer coisas um pouco estranhas, coisas que faziam parte do meu processo de produção. Mas depois de alguns dias tudo começou a correr bem e, de repente, estávamos entre gargalhadas todos os dias, de manhã à noite. Estou já a trabalhar com ele num outro projecto, uma coisa que quero rodar em Portugal.
Outro trabalho seu, completamente diferente e que também está agora a chegar a diferentes públicos, é a série “Red Oaks”.
Sim, totalmente diferente mas que também tem alguma relação com “Profissionais da Crise”. Passa-se em New Jersey, nos anos 80, uma espécie de resort de férias, mas também dá um retrato actual da América. Há coisas que parecem nunca ter um prazo de validade e esta é uma delas: crescer.E crescer na América. Tal como em “Manglehorn”. Não é bem crescer mas é reaprender a crescer, é começar de novo quando parece que não há tempo nem hipótese para isso.
Em “Manglehorn”, a personagem principal é interpretada por Al Pacino, que nunca ninguém vai questionar porquê. Mas em “Red Oaks”, que acontece na América dos anos 80, tem à frente do elenco um jovem inglês.
Sim, escolhi o Craig Roberts para protagonizar a série, para ser oDavid. Vi-o no“Submarine” [filme de 2010] e pareceu--me perfeito para aquele papel. Além disso, trouxe muitas e boas ideias para a série.
Trabalhar em televisão consegue hoje ser mais aliciante do que fazer filmes para o cinema?
Diria que a televisão tem hoje um apetite muito forte por material complexo, coisa que é muito bem acompanhada por orçamentos grandes, que não existiam há uns anos, e por uma vontade notória de correr riscos. A televisão ocupa hoje o lugar que já foi do cinema independente. Por isso há tantos realizadores, actores e produtores a trabalhar em televisão. Há muitas possibilidades.
Quem o levou a querer ser realizador?
Não sei bem. É sempre difícil dizer que coisas particulares nos levaram a alimentar uma paixão. Mas lembro-me sempre de filmes do RobertAltman ou doAlan Parker, também oDanny Boyle.Sempre me senti inspirado por realizadores que vão mudando o que fazem, que de alguma maneira se desafiam a eles próprios. Claro que depois, na realidade, fazer filmes não é só isso.
É tudo o que esperava?
É mais ainda, é muito melhor do que imaginava, mas também dá muito mais trabalho. É uma maneira perfeita de viajar e conhecer o mundo, também há isso, mas depois há a vida pessoal, convém não esquecer essa parte.
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