Missão falhada. Os quatro ladrões desastrados que não souberam roubar carris


Não se sabe ao certo o que se lhes passou pela cabeça. George, Marius, Panaíte e Onusko decidiram assaltar um estaleiro da REFER em plena luz do dia e mesmo em frente a uma esquadra da polícia. Foram obviamente apanhados em flagrante. Os créditos da detenção do grupo de romenos – dois irmãos e dois…


Não se sabe ao certo o que se lhes passou pela cabeça. George, Marius, Panaíte e Onusko decidiram assaltar um estaleiro da REFER em plena luz do dia e mesmo em frente a uma esquadra da polícia. Foram obviamente apanhados em flagrante. Os créditos da detenção do grupo de romenos – dois irmãos e dois primos em segundo grau chegados a Portugal há seis dias – são de um agente da PSP recém-colocado na esquadra, que se passeava num carro descaracterizado para conhecer os cantos à casa.
  O que o polícia não esperava era ver, logo a seguir ao almoço, quatro homens a carregarem qualquer coisa pesada para dentro da mala de um carro. A seguir, dois deles enfiaram-se no porta-bagagens. Um terceiro tentava fechar a porta, mas não conseguia, de tão cheia que a mala estava. Empurrava, empurrava e os dois que lá iam dentro a uivarem de dor. Até que o terceiro se cansou e decidiu prender a porta  com um cordel. Depois meteu–se no carro, que arrancou. O agente da PSP interceptou-os logo ali. Dentro da mala estavam dois romenos a sufocar, abraçados a três carris do comboio e a várias ferramentas de cortar ferro.
E foi assim que ao sétimo dia George, Marius, Panaíte e Onusko foram parar ao tribunal. Uma semana antes ainda estavam na Bélgica – vieram a conduzir até Lisboa. Nos últimos dias tinham dormido no carro. “Vivemos os quatro no carro. Costumamos estacionar numa quinta abandonada que tem uma mansão e um terreno muito grande ao pé da Amadora”, conta Marius à juíza.
Mas o que o tribunal quer mesmo saber é a origem do bizarro furto e a juíza decide ouvir os quatro romenos em separado. Panaíte é o primeiro a ser interrogado: conta que era hora de almoço e que tinham acabado de parar o carro-casa numa bomba de gasolina para comerem qualquer coisa. A viatura estava atolada com pedaços de ferro, que iam vender a um armazém em Carcavelos. Nisto, abeirou–se deles um homem que lhes fez uma proposta: se lhe pagassem 15 euros, mostrava-lhes um lugar onde poderiam conseguir mais ferro. Os romenos pagaram e o homem lá lhes indicou o estaleiro da REFERem frente à esquadra da polícia. Nesse dia, o grupo nem almoçou – tal era a excitação.
“Porque pagaram por essa informação?”, pergunta a juíza.
“Pagámos”, responde Panaíte.
“E quem era a pessoa?”
“Era português, chamava-se Ando, só queria ajudar.”
“Não achou estranho oferecerem-lhe dinheiro por uma informação dessas?”
“Não.”
“E porque é que tinham um martelo no carro?”
“É para destruir microondas para extrair ferro.”
“Acha que não cometeu nenhum crime?”
“Agora sei que sim, mas na altura não. O senhor disse que era sem problema, pensei apenas que estava a fazer um bom negócio.”
“Como assim?”
“Pagámos 15 euros e no armazém havia 200 quilos de ferro que íamos vender pr’aí por 400 euros.”
“Se achava que não estava a roubar, porque é que desataram a fugir quando viram  polícia?”
Panaíte nem responde.
“Percebeu que o ferro que estavam a roubar eram carris do comboio?”
“Não, porque somos consumidores de droga, estávamos pedrados e aquilo pareceu-nos apenas ferro velho.”
George, irmão de Panaíte, é interrogado logo a seguir.
“Consome droga, senhor George?”, começa por pergunta a juíza.
“Não”, responde o romeno, claramente surpreendido com a pergunta. A juíza bufa de irritação e já nem quer saber de mais nada. A seguir, o terceiro romeno, Marius, confirma tudo o que Panaíte disse. Sobra Onusko.
“O que tem a dizer?”, pergunta-lhe a juíza.
“Só quero dizer que não somos ladrões. De resto, confirmo tudo o que os meus primos disseram.”
“Mas confirma o quê, se não ouviu o que eles disseram?”
“Confirmo só. E não quero prestar mais declarações.”
No fim de tudo, a juíza decide adiar a sentença. “Dado o adiantado da hora, terá de ficar para outro dia”, justifica-se. [Nota de redacção: eram 18h26.] Mas a intérprete dos romenos pede-lhe que espere mais um pouco. “Eles têm uma dúvida, meritíssima. Dizem que o carro foi apreendido e agora não têm onde dormir…”
“Nenhum deles tem carta de condução e sem documentos não lhes posso devolver o veículo”, responde a juíza, enquanto arruma a papelada na secretária.
“Eles dizem que não têm onde dormir e que a comida e a roupa estão lá dentro.”
“Eles que falem com a polícia para que os deixem tirar de lá a roupa.” E está encerrada a audiência.