Universidade do Porto. Uma porta escancarada para o mundo

Universidade do Porto. Uma porta escancarada para o mundo


Entre o primeiro e o segundo semestre do ano, as universidades do Porto esperam receber quatro mil estudantes estrangeiros. 


Minji Kang soube que queria estudar num país europeu, depois de ter visitado Londres e Viena, no ano passado. Pensou que seria vantajoso estudar num sítio “bonito e calmo”, como é o Porto. Com 22 anos, deixa a electrizante capital da Coreia, Seul, para viver uma experiência de vida “mais relaxada”, contrastando com a do seu país que vive a mil à hora. “Os coreanos levam a vida com muita velocidade”, diz. 

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Minji está no Porto há menos de dois meses. Veio estudar Engenharia Mecâcnica no Instituto Superior de Engenharia. Confessa que o plano inicial era ficar só um semestre, mas já está a pensar estender esse período para ficar um ano lectivo completo, porque está mesmo a apreciar  a calmaria portuguesa. O Jardim das Virtudes é o sítio onde mais gosta de ir “para ter um tempo para reflectir”. Deixa-a “confortável e relaxada”. 



Minji confirma-nos que Portugal tem de facto andado nas bocas do mundo e que até na Coreia se ouve falar maravilhas do país. “Hoje em dia, muitos estudantes coreanos querem vir para a Europa, e em particular para Portugal, porque querem aproveitar para viajar ao mesmo tempo”. Para já, afirma que está a ser “fácil” compreender a matéria que é dada nas aulas, porque os professores falam inglês, mas também porque a turma tem só quatro alunos, espelho da fraca adesão que os cursos de engenharia tiveram este ano lectivo. Minji está, no entanto, a frequentar as aulas do primeiro ano do curso, quando era suposto ir às de segundo e terceiro anos. Não vai porque as aulas destes anos são dadas só em português, que ainda não percebe. 

A comunicação é, de resto, a única e grande barreira para Minji. “Muitos portugueses falam inglês, mas muitas vezes não conseguimos comunicar. Quando vou às compras é complicado”, afirma. No entanto, dos portuenses só tem coisas boas a dizer. “São simpáticos e muito prestáveis”, sublinha. E as vantagens de aqui estar a estudar permanecem inabaláveis. “Tenho a oportunidade de conhecer outros estudantes estrangeiros, o que não é muito comum na Coreia. Depois, ao estudar e ao conversar com eles, posso melhorar o meu inglês”. E a cereja em cima do bolo: “Com o tempo, posso aprender a perceber o que os portugueses dizem”. Essa sim, é a tarefa mais complicada. Para Minji, é tão difícil para um coreano aprender português, como um português aprender hangul (alfabeto coreano). É certo que para nós, portugueses, coreano, japonês e chinês parece tudo igual (“isso é tudo chinês”, dizemos) mas tecnicamente não é e Minji tem muito orgulho na especificidade da sua língua que considera ser “sofisticada e complexa”.

Quem também faz do Porto a sua casa é o indiano Mohamed. Está no mesmo curso – Engenharia Mecânica – e na mesma turma que Minji. Veio para o Porto porque um amigo alemão lhe falou da enorme reputação da universidade, convencendo-o de que tirar uma licenciatura no ISEP seria uma excelente forma de começar uma carreira. 
A língua também é um problema para Mohamed. “Apesar do esforço da universidade e dos professores para que tudo se torne mais fácil para os estudantes estrangeiros, ainda há muitas coisas que estão só em português. E para quem não percebe nada, as primeiras semanas podem ser um grande desafio”, explica-nos, deixando a garantia de que também  “está a fazer a sua parte” para aprender português. 

Se tivesse de falar Portugal aos seus conterrâneos diria que os portugueses são “muito abertos e simpáticos” e que sabem receber quem vem de fora. Aliás, Mohamed está tão apaixonado pela cidade que até já convenceu alguns amigos a virem estudar para o Porto. Ainda este ano vão juntar-se mais alunos indianos aos cinquenta que chegaram no primeiro semestre. Da cidade em si, Mohamed conta que gosta de um sítio perto de São Bento, mesmo ao lado do rio. “Adoro ver o pôr-do-sol lá. É das coisas mais bonitas que vi até hoje”. 

Ao contário da sua colega coreana, que não paga propinas porque há um acordo entre as duas universidades, Mohamed paga uma propina anual de 4500 euros. Mas isso não constitui nenhum problema para Mohamed. Garante que a experiência está a ser muito positiva, embora as saudades da família, dos amigos, e até das especiarias da sua terra, já apertem. 

Mohamed também pretende ficar um ano no Porto. Depois disso quer aproveitar o facto de estar na Europa e viajar tanto quanto possível.