FOLIO. Da literatura fez-se a festa na vila

FOLIO. Da literatura fez-se a festa na vila


O Festival Literário Internacional de Óbidos terminou ontem e a oferta foi variada. As mesas com Ricardo Araújo Pereira e Mia Couto foram as mais concorridas.


“Com o FOLIO inventámos um novo verbo – o verbo ‘literar’. Queremos que Óbidos seja um local de encontro não apenas em Outubro mas durante todo o ano, de escritores, de alunos, de professores, de editores, de estudiosos, de livreiros, de todos aqueles para quem a palavra e a literatura são a profissão, a inspiração, a vida.” Foi assim que José EduardoAgualusa, um dos curadores do Festival Literário Internacional de Óbidos, que terminou ontem, definiu as suas expectativas antes de arrancar a primeira edição do evento.

Ao fim de dez dias de mesas redondas com escritores, nacionais e estrangeiros – como João Paulo Cuenca, Ricardo Araújo Pereira, Gregório Duvivier, Rafael Marques, Mia Couto, Javier Cercas, José Luís Peixoto ou Bruno Vieira Amaral –, de apresentações de livros e várias actividades que juntaram outras artes à da escrita, o desejo manifestado pelo escritor angolano parece ter sido concretizado. “Não é normal num primeiro festival ter tanto público, por um lado, e também não é normal um festival literário começar com tantas coisas, de forma tão exuberante. Aliás, devo dizer que nunca vi nada assim. Estou muito contente”, explicou-nos, na recta final do evento. 

Exemplo dessa participação foram as mesas com cerca de “400 pessoas” e “mesas com 30 pessoas”, que no entender de José Eduardo Agualusa são um bom número neste tipo de evento. “Em todos estes anos como escritor, viajando pela Europa em festivais, raramente tive mais de 50 pessoas numa sala. No Brasil, nos festivais literários maiores, é possível. Já estive em festivais com mais de mil pessoas numa sala, mas isso é algo absolutamente extraordinário”, sublinhou. Entre as mesas que atraíram mais público e para os quais os bilhetes esgotaram com antecedência destacam-se a de Luís Fernando Veríssimo com Ricardo Araújo Pereira e a de Mia Couto com o escritor brasileiro Sidarta Ribeiro, na qual foi moderador. A isto não foi alheia a popularidade de alguns nomes convidados e revelador de que a ideia de cobrar um bilhete pelas sessões – conceito inédito neste tipo de encontros em Portugal – não condiciona a adesão do público. “Se a mesa for interessante para uma pessoa, não é por cinco euros que deixa de ir”, acredita José Eduardo Agualusa. 
As mesas que destacou serão disso exemplo e permitiram mostrar a uma assistência maior autores menos conhecidos, à boleia dos nomes sonantes. “A solução ideal é quando se tem um bom escritor, capaz de trazer público, com um autor muito bom ou interessante que não seja tão conhecido. As pessoas vão ver o primeiro e saem encantadas também com o segundo.”

A primeira edição do FOLIO desdobrou–se em cinco grandes áreas: Autores, Educa, Ilustra, Paralelo e Folia. Vertentes que ajudaram a diversificar o festival e a transformá-lo numa festa, com uma dimensão invulgar no panorama nacional deste tipo de encontros, levando perto de 200 criadores à vila de Óbidos.

Às mesas redondas com os escritores, juntaram-se a música, o teatro, várias exposições e espectáculos de poesia e leitura de textos, entre outras actividades. Formas de atrair público a um evento que apresenta a literatura como tema central e que, finda a primeira edição, permitem lançar as bases para uma segunda.

Entre ideias que já vão sendo discutidas, mas ainda sem nomes, sobra a convicção de que, “quando se tem um evento que já mostrou que é interessante, que tem público, de que as pessoas gostaram muito porque foi uma festa, essa informação passa entre os escritores”. É aguardar para ver como se vai “literar” o próximo FOLIO.