Síria. Vêm aí tropas voluntárias russas para ajudar a tomar Palmira

Síria. Vêm aí tropas voluntárias russas para ajudar a tomar Palmira


Responsável militar admite a intervenção de voluntários russos, numa altura em que os aviões de Moscovo destruíram 20 tanques do EI.  


Aviões russos atacaram 10 objectivos militares do Estado Islâmico (EI), em 15 missões que levaram a cabo na passada segunda-feira. Segundo fontes militares russas, foram destruídos 20 veículos blindados e três lançadores de mísseis, perto da cidade estratégica síria de Palmira.

{relacionados}

“Durante todo o dia, os aviões Sukhoi-34, Sukhoi-24M e Sukhoi-25 realizaram 15 missões de combate a partir da base aérea de Khmeimim. Os ataques tiveram como alvo dez posições militares do Estado Islâmico na Síria”, anunciou o porta-voz do Ministério da Defesa russa, Igor Konashenkov. O responsável russo revelou que os 20 tanques T-55 destruídos faziam parte do material de guerra do exército sírio, capturado pelas forças dos fundamentalistas islâmicos. As autoridades russas divulgaram também um vídeo em que se vê a destruição de um arsenal do EI, na província central de Homs.

Fontes militares afirmam que o objectivo militar destas acções russas é abrir caminho à reconquista, por parte do exército sírio, da cidade histórica de Palmira que se encontra nas mãos do Estado Islâmico. Ao contrário das missões aéreas dos EUA e dos seus aliados, os russos contam no terreno com gente para completar as missões em terra, para além do exército sírio, milícias libanesas dos xiitas do Hezbolah, e militares iranianos podem vir a ser empregues em operações militares para reconquistar território sírio nas mãos do Estado Islâmico.

Segundo um responsável militar dos Estados Unidos, citado pelo “New York Times”, os russos já contam na síria com 600 conselheiros militares e uma guarnição de 2000 homens na base militar russa de Lakatia, em território sírio perto da fronteira da Turquia. E embora o presidente russo Putin tenha garantido que o exército russo não se iria envolver em acções no terreno, o possível envio e envolvimento de “voluntários” russos foi admitido esta segunda-feira pelo o oficial de ligação, da chefia das forças armadas, ao parlamento russo, almirante Vladimir Komoyedov. A utilização destes voluntários já tem precedente histórico recente, no conflito que opõe as autoridades de Moscovo à Ucrânia e durante o processo de anexação pela Rússia do território da Crimeia. 

Segundo o analista militar norte-americano Michael Kofman, citado pela BBC, a força aérea russa que tem participado nos bombardeamentos na Síria compreende 12 Sukhoi-25, 12 Sukhoi-24M2, 4 Sukhoi-30SM e seis Sukhoi-34, alguns dos aviões mais modernos e potentes da força aérea russa, munidos de armas inteligentes. Este dispositivo não fica muito abaixo do das potenciais ocidentais que têm actuado na Síria nos últimos meses. A maior fraqueza dos russos é sobretudo em meios electrónicos de vigilância, satélites e aviões na região vocacionados para o efeito. Esta deficiência militar é compensada pela possibilidade de utilizarem forças aliadas e eventualmente próprias no terreno das operações.

Ontem, o responsável do Ministério da Defesa russo convidou os seus homólogos ocidentais a participarem numa reunião de trabalho para coordenarem esforços na guerra ao Estado Islâmico. Anatoly Antonov, segundo a agência notícias oficial russa TASS, pediu aos Estados Unidos e os seus aliados que compartilhassem com os russos informações militares sobre o posicionamento e forças do Estado Islâmico.

A Rússia iniciou na semana passada uma campanha de bombardeamentos alegadamente contra objectivos do Estado Islâmico no norte e centro da Síria. Estas operações têm sido muito criticadas pelos EUA  e os seus aliados. O presidente Barack Obama já manifestou receio que por detrás deste esforço russo na guerra contra o terrorismo esteja de facto um apoio militar de Moscovo ao regime de Bashar al-Assad. Recorde-se que os Estados Unidos da América têm simultaneamente bombardeado posições do Estado Islâmico e das forças da Al-Qaeda, enquanto armam e treinam os adversários, ditos, moderados ao governo de Damasco. 

As operações militares russas, a pedido do governo sírio, foram contra posições militares de vários grupos sírios, considerados terroristas por Moscovo, alguns deles armados e treinados pelos EUA, mas nos últimos dias concentraram-se em posições do Estado Islâmico no centro da Síria, tendo sido destruídos vários postos de comando armazéns de armas e munições e campos de treino do EI.

Segundo a televisão libanesa Al-Mayadeen, citando fontes militares sírias no local, estes ataques têm tido bastante eficácia, tendo mesmo obrigado o EI a retirar veículos blindados e armamento da província de Idlib, no noroeste da Síria, região onde sofreram grandes perdas humanas e materiais, devido aos ataques dos aviões russos.

A guerra civil na Síria começou em 2011, depois das autoridades terem reprimido manifestações populares contra o regime de Bashar al-Assad, na sequência das chamadas Primaveras árabes. Numa primeira fase as tropas do regime bateram-se contra opositores e desertores do exército, tendo o conflito evoluído para uma guerra com contornos regionais. Sendo o regime apoiado pelo regime xiita do Irão e os opositores, entre os quais forças fundamentalistas e do Estado Islâmico, pela Arábia Saudita, o maior aliado dos Estados Unidos na região.

O regime de Damasco apoia-se numa facção minoritária da população, os alauitas, historicamente uma dissidência religiosa dos xiismo. Por sua vez, a oposição é maioritariamente sunita, como a maioria da população da Síria. A guerra já provocou mais de 250 mil mortos e 11 milhões de refugiados, muitos dos quais tentam agora asilo na União Europeia.