Eos, Scirocco e Sharan são os modelos produzidos pela Autoeuropa e que estão manipulados. Essa realidade já foi reconhecida pela própria SIVA, representante em Portugal das marcas Volkswagen, Audi e Skoda ao admitir que a fábrica de Palmela produziu vários modelos com dispositivos que falseiam os resultados das emissões de gases poluentes.
O i apurou junto de vários clientes que compraram o Scirocco, modelo produzido exclusivamente em Palmela, que estão manipulados. Os clientes fizeram o teste que a SIVA pôs à disposição dos proprietários, desde terça-feira, para saberem se o seu carro está ou não afectado através do número de série do quadro e muitos foram foram confrontados com a seguinte mensagem: “Lamentamos informá-lo de que o motor Tipo EA 189 do seu veículo com o Número de chassis (…) que submeteu está afectado pelo software que causa discrepâncias nos valores de óxidos de azoto (NOx) durante os ensaios no dinamómetro”.
A mensagem lembra ainda que “o carro é seguro em termos técnicos e pode circular em estrada”, acrescentando: “Lamentamos ter quebrado a sua confiança e estamos a trabalhar a toda a velocidade para encontrar uma solução técnica”.
Para já a Volkswagen diz apenas que “vai suportar o custo de todas as medidas e fará tudo o que estiver ao seu alcance para recuperar a sua confiança”.
A verdade é que estes são alguns dos 94 400 clientes afectados que o grupo alemão já admitiu que existem em Portugal. No total, existem 53 761 unidades da Volkswagen, 31 839 da Audi e 8800 da Skoda. A somar estes ainda existem 23 mil carros manipulados da Seat.
Confrontado com a existência de vários modelos manipulados produzidos na Autoeuropa, o responsável pela comissão de trabalhadores da fábrica de Palmela, António Chora, admite ao i que ficou surpreendido com o facto do modelo Scirocco estar envolvido neste escândalo. “Assim que surgiram as primeiras notícias dos motores que estavam manipulados é natural que se comece a suspeitar dos modelos que estariam afectados e que eram produzidos em Portugal, mas não estava à espera que o Scirocco estivesse envolvido”, salienta.
O responsável diz, no entanto, que era impossível os trabalhadores da Autoeuropa suspeitarem do que se estava a passar porque os motores instalados nos automóveis produzidos na fábrica de Palmela vinham de fora, nomeadamente da Alemanha, Hungria e Polónia, já que são os três países que produzem os motores EA189.
António Chora vai mais longe e garante que “nenhuma fábrica que tenha montado motores EA189 vai ficar à margem”, ou seja, a Autoeuropa é “apenas mais uma” das unidades industriais envolvida, sem querer, no esquema.
VW apresenta solução A Volkswagen entregou ontem o plano de acção ao governo alemão. Para já, o fabricante germânico apresentou apenas uma solução para os motores 2.0 e 1.6 a gasóleo. “Para o motor 2.0, a Volkswagen disse que estará pronta ainda este ano uma solução para o software destes modelos, que será implementada no início do próximo ano. “Para o motor 1.6, além de um novo software, serão necessárias alterações no motor, que, segundo a marca, não estarão prontas antes de Setembro de 2016”, revelou o ministro dos Transportes, Alexander Dobrindt. Há 3,6 milhões de veículos do grupo Volkswagen com este motor instalado.
Está agendada para a próxima terça-feira uma reunião entre os investigadores da KBA e os responsáveis da VW para arrancar a análise deste plano, acrescentou ainda o ministro.
De acordo com as contas do novo líder do fabricante alemão, Matthias Müller, toda esta operação só estará concluída no final do próximo ano. Dependendo do tipo de alteração que terá de ser feita, os custos de reparação poderão variar entre os 20 e os 10 mil euros por carro.
No entanto, de acordo com os clientes que compraram modelos Scirocco manipulados nem todos estão interessados em fazer essa reparação. O i apurou que a grande maioria não quer fazer alterações do motor e alega que as mesmas vão tirar a potência do veículo que compra.
Uma outra fonte da fábrica de Palmela lembra ainda que nem todos os veículos com este chip terão de ser sujeitos a grandes reparações. “Tudo depende do nível de emissões permitido no país em que circulam. Acredito que há casos em que basta retirar esse manípulo e o veículo apesar de emitir mais gases poluentes pode estar a respeitar o limite máximo permitido”, salienta.
Recorde-se que em Setembro, o grupo Volkswagen admitiu ter equipado milhões de veículos com um software destinado a manipular os resultados dos controlos de emissões poluentes. Já esta terça-feira admitiu que vai rever todos os investimentos previstos e “cancelará ou adiará os que não sejam estritamente necessários”. O fabricante alemão tinha em 2014 uma meta de investimento de 86 mil milhões de euros para os próximos cinco anos.
Para já, a empresa alemã fez uma provisão de 6,5 mil milhões de euros, no terceiro trimestre, que cobrem os custos para actualizações dos veículos afectados, mas Matthias Müller reconhece agora que essa verba “não é suficiente”, prevendo “grandes penalidades para resolver acordos de indemnização”.
Entretanto, uma condutora alemã exigiu ao grupo Volkswagen uma indemnização e a devolução do dinheiro que pagou pelo seu carro devido ao escândalo da manipulação das emissões de gases poluentes nos motores a gasóleo da empresa. Fontes do tribunal de Braunschweig, no norte da Alemanha, disseram ontem ter recebido uma queixa de uma condutora particular, formulada por um advogado de Bochum em sua representação, que adquiriu um automóvel do modelo Blue Motion por razões ecológicas.
Segundo o advogado, a condutora decidiu comprar o modelo Volkswagen Blue Motion, apesar de ser mais caro do que outros equivalentes, por considerar que provocava menos danos ao meio ambiente e agora sente-se defraudada.
Esta queixa segue-se a uma outra apresentada há uma semana, também no– tribunal de Braunschweig, por um investidor privado que pretende ser ressarcido pela perda verificada na aquisição de acções do grupo Volkswagen há uns meses atrás.