Euro-2016. Abaixo a máquina calculadora

Euro-2016. Abaixo a máquina calculadora


Está ali à mão de semear, o primeiro apuramento directo para um Euro a uma jornada do fim: basta-nos pontuar com a Dinamarca ou esperar pela vitória sérvia na Albânia.


Na Primavera de 2010, um psicólogo visita o Arsenal e mede a auto-estima a todos os jogadores de 1 a 9. Nicklas Bendtner é diferente dos demais e tira um 10. Isso mesmo, rebenta a escala. O avançado dinamarquês é um homem de recursos mil, pleno de confiança.Uma vez, em Lviv, diz ao i. “Tens de ver o quadro completo: a camisola vermelha, o símbolo da Dinamarca, a força dos adeptos e o meu nome. Juntos, vamos dar que falar.” E marca dois a Portugal, ali mesmo, em Lviv. Vale-nos o 3-2 do suplente Varela perto do fim.

Bendtner gosta de nós, portugueses. E é fácil perceber porquê: o primeiro golo de sempre na selecção, pelos sub-16, é emAlmeirim (Fevereiro de 2004). O primeiro arrufo na selecção, pelos sub-21, é em Aveiro (Maio de 2006). NoEuro desse ano, a Dinamarca empata com a Itália (3-3) e depois vs. Holanda (1-1). Aos 67 minutos, cede o lugar a Morten Rasmussen e resmunga: “Não entendo nada. Saí pelo Rasmussen? Quer dizer, não é o acto de sair, é o Rasmussen em si. Ele não é como eu, a Dinamarca ficou mais fraca. Chamar substituição àquilo é confrangedor.”
Aos 18 anos, Bendtner estreia-se nos AA e inicia um caminho sem igual. No que diz respeito a Portugal, claro. Veja lá bem esta sequência: Bröndby,2006, Lisboa, 2008, Copenhaga 2009, Copenhaga 2011 e Lviv 2012 (em dose dupla). Em cinco jogos, seis golos. Mestre.

Só há um melhor que Bendtner: é o espanhol Isidro Lángara com sete golos (cinco no 9-1 em Madrid e dois no 2-1 em Lisboa, ambos para a qualificação do Mundial-34). Bendtner tem hoje a possibilidade de igualar ou até passar Lángara. Para tal, é marcar. Xiiii, que confiança ilimitada. É como ele diz. “Se não formos confiantes, estamos aqui a fazer o quê? Diz-me. Achas que entro em campo a temer este ou aquele defesa? Não, nada disso. Entro sempre em campo a pensar que sou melhor que eles. Se duvido de mim, não tenho hipótese de o superar e o desporto é isso mesmo, superação individual. Seja ténis, basquetebol, andebol, voleibol, futebol. Desde pequeno que tenho essa mania de ganhar a toda a gente.”

E agora? Bendtner, Bendtner, Bendtner e mais Bendtner. Há maneira de dar a volta ao texto? Sim, claro que sim. Como? Não é como, é com quem. Ronaldo, por exemplo. É ele o herói em Copenhaga com aquele golo de cabeça aos 90’+5, após cruzamento de Quaresma. É o 1-0 na estreia oficial de FernandoSantos. Seria bonito selar a qualificação para oEuro-2016 com esta Dinamarca. Mais bonito (e prático) porque nos falta um só ponto. Isso mesmo, basta-nos um empate. E à falta de uma jornada (em Belgrado, com a Sérvia, no domingo 11).
Quando, mas quando é que Portugal se qualifica directamente na penúltima jornada pela primeira vez? É preciso recuar, recuar e recuar. No dia 31 de Outubro de 1965, o brasileiro Otto Glória comete essa proeza com um 0-0 vs. Checoslováquia nas Antas. O estreante Carvalho (Sporting) é o herói com uma defesa ao canto superior direito, a evitar o golo de Vasely. Inglaterra, Mundial-66, aí vamos nós.
Quando, mas quando é que Portugal se qualifica directamente na penúltima jornada pela última vez? Nem é preciso recuar por aí além. No dia 8 de Outubro de 2005 (olha, faz hoje dez anos), o brasileiro Scolari comete essa proeza em Aveiro, com um impensável 2-1 sobre Liechtenstein.
Numa exibição sem cabeça, Pauleta e Nuno Gomes garantem a vitória através de dois lances aéreos, a provar que dois avançados nunca são demais numa das selecções europeias mais eficazes nessa qualificação para o Mundial-2006, com 32 golos (como a República Checa).
Uma falha de comunicação entre Paulo Ferreira e Ricardo dá o 1-0 ao Liechtenstein. Na segunda parte, Pauleta assina o 40.o golo (a um do rei Eusébio) e Nuno Gomes dá a vitória, dois minutos depois de ter entrado. Pelo meio, Figo falha um penálti – o quarto ao serviço da selecção – e supera os três de Jordão. Esse mesmo, aquele do 1-0 à URSS na qualificação para o primeiro Europeu de sempre, o de 1984. Hoje espera-nos o sétimo apuramento. Com Bendtner a ver.

Portugal-Dinamarca às 19h45 na RTP1

Números

7 – Em caso de qualificação, Portugal chega à sétima fase final de um Europeu

3 – Três jogos na Pedreira: derrota (Itália), empate (Albânia) e vitória (Azerbaijão)

5 – Cinco dos oito golos de Portugal no apuramento pertencem ao capitão Ronaldo

CITAÇÕES

“Procurar o pontinho era a pior coisa que podíamos fazer, não temos condições de o fazer”
“Não gosto de falar em renovações e revoluções. O princípio do seleccionador deve ser escolher os melhores, sem olhar para a idade nem para os jogos na selecção”

“Portugal tem sete ou oito jogadores com idades acima dos 30, mas se tirasse Pepe, Ronaldo ou Ricardo Carvalho, diriam que fiz tudo à balda”

“Não há jogos comparáveis. Nessa altura [1-0 em Copenhaga], a Dinamarca estava em vantagem e o empate servia-lhes, a nós não”

“Não me parece que a Dinamarca vá alterar a sua forma de jogar. Eles têm obviamente muitos pontos fortes colectiva e individualmente”

“A melhor posição para Cristiano é fazer golos, seja à esquerda, à direita ou ao meio”

Fernando Santos
Seleccionador Nacional