BE. As notícias da sua morte foram manifestamente exageradas

BE. As notícias da sua morte foram manifestamente exageradas


Resultado histórico do BE teve a maior expressão no Porto, onde Catarina Martins foi cabeça-de-lista.


Há poucos meses o Bloco fazia contas à vida e não eram de somar. O partido olhava com preocupação para as legislativas e temia o “efeito António Costa” no eleitorado de esquerda. Via surgir o Livre/Tempo de Avançar, para onde tinham “desertado” ex-dirigentes e militantes bloquistas, sem saber que estragos poderiam vir dali. E já olhava para os resultados de 2011 com outros olhos. O que na altura foi um descalabro – e serviu para um sem-número de previsões do fim do Bloco – agora até seria uma boa notícia.

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Isto foi há alguns meses. No domingo o Bloco de Esquerda conseguiu o melhor resultado de sempre nas urnas. Em votos (549 mil, mais 261 mil que há quatro anos) e em mandatos (sobe de oito para 19, a maior bancada que o BE já teve). Curiosamente, a maior subida foi no distrito do Porto, onde os bloquistas passaram de 51 mil para 107 mil votos. Por acaso – ou talvez não – o círculo que teve como cabeça-de-lista Catarina Martins.

“Onde quer que fôssemos era impressionante o carinho e a afectividade das pessoas com a Catarina”, diz José Soeiro, o número dois pelo Porto. O dirigente bloquista diz que se sentiu a viragem ainda antes da campanha – “os debates televisivos foram muito marcantes” – mas foi nas ruas que se tornou visível que o partido estava em crescendo: “Sentiu-se uma onda de apoio”. E porquê agora, se Catarina Martins está na liderança do BE desde 2012 (então a par com João Semedo)? Pedro Soares, que regressa ao parlamento com uma improvável eleição por Braga, lembra que esta é a primeira vez que Catarina Martins protagoniza a candidatura do BE: em 2011 ainda foi Francisco Louçã, nas autárquicas o protagonismo foi para João Semedo, nas europeias a porta-voz dividiu o palco com Marisa Matias. A porta-voz estreou-se agora como o rosto do partido e terá surpreendido alguns, diz José Soeiro: “Talvez por ser mulher, acho que os adversários a subestimaram”.

Mas antes do fenómeno Catarina, um outro trouxe ao BE a primeira nota de esperança de que talvez nem tudo corresse mal nestas legislativas. A prestação de Mariana Mortágua na comissão parlamentar de inquérito ao BES criou uma estrela mediática, que o Bloco aproveitou lançando-a como cabeça-de-lista em Lisboa. Foi o primeiro alento para o BE, que esperava que Mortágua pudesse alcançar um bom resultado na capital que respaldasse os números do resto do país.

Simplificar e o desafio ao PS 
Não foi só de figuras que se fez o resultado do Bloco no domingo. Quer José Soeiro, quer Pedro Soares apontam um outro factor relevante. “Quem vaticinou a morte do BE subestimou o enraizamento do partido. O BE tem uma raiz mais profunda do que as pessoas pensam”, diz Soeiro, sublinhando que o BE “é uma organização, não é um fenómeno eleitoral”. O que explica em parte porque triunfou agora onde o Livre, que disputava o mesmo espaço, falhou: “O que se provou é que essas experiências de novos partidos foram todas elas um fracasso”.

E para isso terá contribuído a proposta lançada por Catarina Martins, no debate com António Costa, de disponibilidade para o diálogo à esquerda. Tal como a simplificação do discurso do partido: nas últimas semanas quase não se ouviram no Bloco referências ao Tratado Orçamental. Não foi por acaso. “Concentrámo-nos naquilo que afecta as pessoas, na incidência que a austeridade terá na vida das pessoas.