O PSfoi o grande derrotado da noite eleitoral de ontem. Depois de uma vitória nas europeias com 31% que levou à saída de António José Seguro, uma derrota nas legislativas com 32%.
Para amanhã já está marcado um jantar com socialistas de todo o país – na sua maioria, ex-apoiantes de António José Seguro – para debater a “estratégia do partido” para os próximos tempos. Este será o primeiro dos “jantares” onde a oposição interna a António Costa se começará a reunir para pedir consequências da derrota eleitoral. Ainda o secretário-geral do PS não tinha acabado de anunciar a decisão de continuar na liderança e já alguns socialistas exigiam que se demitisse. O ex-porta-voz do PS João Assunção Ribeiro defendeu a “saída imediata do actual secretário-geral do Partido Socialista”. Antes, Ana Gomes tinha-se manifestado “chocada” – repetindo a expressão que António Guterres tinha utilizado quando decidiu avançar para secretário-geral depois da derrota de Sampaio em 1991. Eurico Brilhante Dias, outro dirigente do PS que esteve na direcção de Seguro, defendeu que todas as eleições “têm consequências políticas”.
Álvaro Beleza, à saída do hotel Altis, afirmava que reunir a comissão política para discutir os resultados eleitorais, como propôs Costa, é “poucochinho”. “O secretário-geral do partido está no seu direito, diz que não se demite, é uma opção, o que estou a dizer é que não se compreenderia que não se fizesse um debate interno e ele vai existir”, disse Beleza, que afirmou esperar que o PS ganhe as presidenciais de 2016, lembrando que há “uma candidata que foi presidente do partido”.
O segurismo vai pedir a cabeça do secretário-geral. “Falhou. Deve demitir-se”, defendeu António Galamba, da direcção nacional de Seguro, que diz que o líder socialista “falhou os dois objetivos que motivaram o assalto à liderança” do PS: “Falhou na unidade do PS e falhou na conquista da maioria absoluta”. “O que o dr. António Costa fez ao PS e ao país é criminoso. Depois dos últimos 4 anos de austeridade, a direita ganhou as eleições legislativas”, afirma.
Apesar de ser o grande derrotado, o PS ficou com a chave da governabilidade nas mãos. Com a coligação a ganhar as legislativas sem maioria absoluta, dos socialistas depende agora o futuro imediato do executivo. Até porque o Bloco de Esquerda – que conseguiu o maior grupo parlamentar de sempre, à frente do PCP – e a CDU já prometeram vida curta a um governo minoritário de direita.
No discurso com que o PS fechou a noite eleitoral, António Costa deixou claro que cabe à coligação formar governo. Mas devolveu a bola a bloquistas e comunistas, afirmando que não chega chumbar a coligação – o que teoricamente pode acontecer já no programa de governo (a oposição pode apresentar uma moção de rejeição) ou com o próximo Orçamento do Estado. “Não seremos maioria do contra, o PS não contribuirá para maiorias negativas que só criem obstáculos, nem para gerar alternativas que não sejam susceptíveis de criar alternativas credíveis de governo”, garantiu António Costa.
Logo ao início da noite, Catarina Martins, líder do BE, tinha lançado o desafio:“Uma coligação de direita minoritária não será governo em Portugal, e pelo Bloco de Esquerda não será certamente”. Também Jerónimo de Sousa deixou claro que só haverá um governo de direita “se o PS o viabilizar”.
No discurso de vitória da coligação, Paulo Portas e Passos Coelho não pouparam nas mensagens para oLargo do Rato. O resultado do PS é uma “derrota inapelável”, afirmou o líder do CDS, defendendo que é “tempo de compromisso e de equilíbrio”. Passos Coelho sublinhou que comunicará ao Presidente da República que “a força política mais votada nas eleições está disponível para formar governo”. E, reconhecendo também mudanças no quadro político, Passos garantiu que não deixará de “ir ao encontro daqueles, como o PS, que se filiam numa opção europeia” e no respeito pelas regras da zona euro. “Tomarei a iniciatiiva, no plano parlamentar, de contactar o PS no sentido de procurar entendimentos que são indispensáveis para fazer as reformas estruturais” que são necessárias no país, sublinhou o líder da Pàf.