Carissa Moore. “Espero um dia voltar à capa da ‘Surfer'”

Carissa Moore. “Espero um dia voltar à capa da ‘Surfer’”


Surfista havaiana foi a única a disputar a Triple Crown masculina. Aos 23 anos, já mudou para sempre o surf feminino com o seu talento inigualável 


“Não a comparo às outras mulheres. Comparo-a ao top-5 dos surfistas masculinos. Ela dá-lhe tanto como os melhores homens.” Se lhe dissermos que a frase sobre Carissa é de Stephanie Gilmore, seis vezes campeã mundial de surf, estamos conversados. Ou podíamos recordar a capa da “Surfer”, a mais influente revista da modalidade, em 2009: “Carissa surfs better than you… [a Carissa surfa melhor do que tu…]”. Há mais de uma década que uma mulher não aparecia na capa da publicação, e a frase escolhida não podia ser mais forte. Carissa Moore estava destinada a mudar para sempre o surf feminino.

“Cada vez mais, vejo o lado feminino do surf a ter atenção, as pessoas estão entusiasmadas por nos ver, os prize money são maiores e há mais patrocinadores. Não podia estar mais orgulhosa do estado do surf feminino na actualidade”, diz ao i, no seu tom de voz doce e calmo. Carissa é uma fera dentro de água, mas fora dela é só sorrisos. Há muito que a havaiana se bate por uma maior atenção e respeito pelo surf feminino. E com a influência conquistada, é impossível que os organizadores e os patrocinadores não lhe dêem ouvidos. Se já viu Carissa surfar ao vivo (não ligue ao resultado no Cascais Women’s Pro:eliminada no round 4)perceberá a frase na capa da “Surfer”. Muitos dizem-lhe que ela surfa como um homem. Será isso um elogio? “Sem dúvida. Sinto-me honrada de ouvir esses comentários, os homens são fantásticos, adoro vê-los surfar. Espero que possa acrescentar um pouco de beleza e graciosidade ao surf.”

Numa entrevista aos 11 anos disse que a manobra que lhe dava mais prazer fazer era a dos 360. Repetimos, com 11 anos. Granjeou o respeito que poucos conseguem nos concorridos line-ups do Havai; o seu surf destacava-se tanto entre as mulheres que começou a competir com os homens. Foi a primeira e única mulher convidada a participar na mítica Triple Crown havaiana. Desde então, Riss tornou-se a mais jovem campeã mundial, aos 18 anos – e no ano anterior, em que se estreou no circuito, perdeu o título ao ter faltado a um evento para poder terminar o ensino secundário.
Todos acreditam que Carissa será a natural sucessora de Gilmore. Talvez por rivalidade, nunca se aproximaram muito. À excepção de uma jam session, após um campeonato. “Ainda não interagi assim muito com a Stephanie, mas os momentos que tivemos foram especiais. Ela é um exemplo e uma grande surfista. Já cantámos juntas, foi divertido. Só o fizemos uma vez, espero que possamos repetir”, confessa-nos. E quando está de phones nos ouvidos, antes de entrar na água, o que prefere escutar? “Adoro ouvir música nesses momentos, ajuda-me a abstrair do ambiente e a ficar na minha bolha. Costumo ter algumas coisas de Taylor Swift, Cia e… o que tenho mais? Todos os tipos de música, um pouco de cada.”

Cresceu no Oahu, Havai, e aos quatro anos já surfava. Aos 12, os pais divorciaram-se e a jovem dividia o tempo entre duas casas. Na altura, quando estava com a mãe, escrevia cartas ao pai (seu treinador) a dizer que sentia saudades de surfar e que queria ser a melhor do mundo. Mesmo “só” tendo dois títulos mundiais (2011 e 2013), contra os seis de Steph, Carissa é um modelo a seguir para muitas surfistas do circuito. “Exemplo? Não tenho ideia. Espero que sim. É difícil dizer porque são minhas colegas, não sei se elas olham para mim dessa forma. Sei que todas queremos surfar, competir e ganhar umas às outras.”

Carissa já atingiu o sonho que confessara ao pai durante a sua juventude. Muitos homens teriam receio em tê-la como adversária, se um dia fosse convidada a correr o circuito masculino. No entanto, continua a ser a menina tímida e sorridente que um dia apareceu na primeira página da “Surfer”. “Senti-me muito bem. Foi uma grande honra aparecer na capa daquela revista, foi um sonho tornado realidade. Espero que possa voltar a fazê-lo um dia [risos]”. Mesmo que não volte a acontecer, Riss já revolucionou o surf.