O antigo ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho começa a ser julgado a 7 de Outubro por violência doméstica contra a ex-mulher, Bárbara Guimarães. E entre o rol de personalidades que o vão defender em tribunal estão, além do filho de 11 anos, a socialista Maria de Belém, a actriz Leonor Silveira, o crítico de televisão Eduardo Cintra Torres e João Carlos Alvim, um dos fundadores da editora Assírio Alvim.
Na contestação à acusação que a defesa entregou no tribunal, e a que o i teve acesso, Carrilho nega ter cometido “qualquer crime” de violência doméstica e tenta desmontar a versão da ex-mulher – que garante ter sido agredida várias vezes e até ameaçada de morte –, recorrendo a entrevistas e imagens da apresentadora na época em que o Ministério Público situa as agressões. Entre as dezenas de documentos que o antigo ministro anexou estão várias declarações públicas de Bárbara sobre o casamento feliz que supostamente mantinha com o marido. “Foram, em geral, 12 anos de harmonia e felicidade, entrecruzados por raras e insignificantes excepções, pelas quais todos os casais naturalmente passam”, descrevem os advogados de Carrilho.
Um casamento “perfeitamente saudável” que a defesa assegura só ter sido manchado pelo “sinuoso percurso de alcoolismo” da ex-mulher. Manuel Maria Carrilho acusa Bárbara de ter construído uma “história de violência doméstica” para acabar com o casamento e garante que só falaram de divórcio uma única vez, em Abril de 2013. Terá sido uma conversa em que foi “ponderada” a guarda dos filhos e em que o antigo ministro recordou que teriam de “fazer contas” relativamente à casa onde viviam e comprada pelos dois.
Bárbara Guimarães, diz a contestação, não terá voltado a tocar no assunto e, de forma, “fria e premeditada”, impediu o então marido de voltar a entrar em casa a seguir a uma viagem a Paris – iniciando assim o processo de divórcio “segundo os impulsos da sua vontade caprichosa, bem ao estilo de vedeta, estatuto a que se foi habituando ao longo dos anos”, ao invés de ter intentado “uma simples acção de divórcio”.
o glamour de Paris Mas as acusações vão mais longe. Se Bárbara garante que Carrilho ficou deprimido após abandonar a vida política e Paris, Carrilho conta outra versão: a ex-mulher era “muito apreciadora das mordomias do cargo [de embaixador] e do glamour da vida cosmopolita” da capital francesa, bem como “do acesso às elites políticas” e nunca entendeu “a natureza intelectual do trabalho do marido” – discordando, por isso, do regresso a Portugal.
Para a degradação do casamento terá ainda contribuído o facto de a apresentadora ter encarado “mal a entrada nos 40 anos” e deixar de ser chamada para trabalhos com “tanta regularidade”. As discussões em casa, diz a defesa do antigo ministro, tinham sempre a mesma causa: o “crescente refúgio no álcool” de Bárbara. Carrilho conta que a ex-mulher terá chegado a deixar a filha “à porta da cozinha a dizer que tinha fome enquanto continuava lá dentro fechada a beber com as amigas”.
a festa de anos “A assistente [Bárbara] disparou pelas costas de um homem desarmado e depois inventou a narrativa da violência doméstica para alegar que esse disparo fora em legítima defesa”, argumentam os advogados do antigo ministro, citando longamente um texto de José António Saraiva sobre as “depressões” das vedetas.
Quanto à festa de anos que a apresentadora alega ter sido estragada por Carrilho – e onde esteve Maria de Belém –, a defesa conta que só “não correu tão bem como poderia ter corrido” porque a aniversariante “rapidamente ficou alcoolizada” e Carrilho sofreu “uma intoxicação alimentar”. Sobre os hematomas que maquilhadoras da SIC confirmaram a várias revistas terem visto, o antigo ministro explica que terão resultado de quedas causadas pela bebida: “É do senso comum que quem tem problemas com o álcool muitas vezes se desequilibra e cai”, lê-se na contestação, onde é relatado um episódio em Viseu em que Bárbara, embriagada, se terá cortado num copo e caído numa sebe.
Já na noite em que a ex-mulher diz ter sido ameaçada de morte, Carrilho assegura que, na realidade, Bárbara “adormeceu embriagada em frente do televisor, o que era frequente”. E, para reforçar a tese de alcoolismo, a defesa vai pedir ao tribunal que apure “as despesas” com álcool da apresentadora no “El Corte Inglés”.
Quanto às entrevistas que foi dando à imprensa, Carrilho tenta defender-se, dizendo que ocorreram “num contexto de absoluto desespero” contra o “torpe ataque público que lhe foi desferido” pela ex-mulher. Acusado de 23 crimes de difamação, o antigo ministro pede para ser julgado apenas por um e “dispensado de pena”. E contesta ainda a indemnização de 620 mil euros pedida por Bárbara Guimarães. Contactada pelo i, Bárbara Guimarães recusou fazer comentários à defesa do ex-marido.