Às vezes é preciso lembrar o óbvio. Em eleições, não são apenas os governos que são avaliados. Também as oposições têm de ser escrutinadas. O Partido Socialista apresenta-se ao eleitorado com o mantra da credibilidade e da confiança. Como se a credibilidade e a confiança fossem um penhor para o voto que anda a pedir aos portugueses. Admitindo que o que diz o líder do PS é o mesmo que teria feito se fosse governo, importa olhar retrospectivamente para o último ano. Desde que chegou à liderança do PS que António Costa tem tentado convencer o país de que, com ele, a austeridade acaba de um dia para o outro; com ele, a economia portuguesa terá pujança alemã; com ele, o Estado social português fará sombra ao modelo nórdico. Como líder da oposição, Costa tem prometido o éden e mostra o caminho para lá chegar: “marimbamo-nos para a dívida e para os credores”, nas palavras de um dos seus mais destacados dirigentes, porque “as dívidas não se pagam” – assim foram doutrinados os socialistas –, distribuem-se benesses pelo Estado, aumentam-se salários e pensões, baixa-se o IVA na restauração e salva-se o BES da mesma maneira que o governo socialista nacionalizou o BPN, fazendo do mal de alguns a desgraça de todos.
É este pensamento mágico socialista, radicalmente perigoso na sua ilusão, que tem de ser escrutinado. Nunca teremos o contrafactual. Mas de uma coisa podemos ter a certeza: a história do país com os socialistas teria sido certamente diferente daquela que conhecemos. Com a coligação PSD/CDS conseguimos uma saída limpa; com o socialismo, arrisco dizer que teríamos um segundo e, quem sabe, um terceiro resgate, tantas foram as vezes que ele andou na boca dos socialistas e tão explícitas as manifestações de proximidade programática com o Syriza. Com a coligação saímos da recessão e passámos ao crescimento; com o socialismo, tal a simpatia pela espiral recessiva, não teríamos saído dela. Com a coligação, o défice vai ficar abaixo dos 3% e a dívida pública está em queda pela primeira vez em 15 anos; com o socialismo e, repito, se as suas promessas-que-afinal-não-são-promessas-mas-sim-compromissos fossem levadas à letra, teríamos explodido todos os limites orçamentais e continuaríamos a ser um protectorado. E os portugueses continuariam a pagar um preço muito alto pelo resultado das governações socialistas que, recorde-se, todas elas acabaram na bancarrota ou no pântano.
Como o processo das presidenciais evidenciou, a tomada de poder no Largo do Rato deixou o partido em cacos. No PS, cada um puxa para seu lado. É um albergue espanhol. E os sinais de descrença num bom resultado confirmam-se nos distanciamentos de figuras do PS como Francisco Assis, Vital Moreira ou Jaime Gama. António Costa ajuda à festa. No afã de agradar a todos, ele tem sido tudo e o seu contrário. Vai virar a página da austeridade, mas esconde os cortes de 1000 milhões nas pensões sociais não contributivas. Tanto aplaude as vitórias do Syriza como se apressa a condenar a “estratégia tonta” de Tsipras. Ora garante aos chineses que o país está melhor como, logo de seguida, tenta convencer as pessoas de que está tudo mal. À mesa dos empresários ou na “Quadratura”, perora sobre a estabilidade. Mas no calor comicieiro rasga as vestes e dá lugar ao radical que chumba um Orçamento que nem sequer conhece, liderando uma coligação negativa (com PCP e BE) para lançar o país no pântano. Um dia diz que vai usar o dinheiro das portagens para financiar a Segurança Social, no outro já está a dizer que baixa as portagens. Às segundas, quartas e sextas diz que o emprego qualificado é “a causa das causas”. Às terças, quintas e sábados aponta a construção civil (com os dinheiros da Segurança Social) e a restauração (com a baixa do IVA) como os sectores criadores de emprego qualificado (?). Como candidato a primeiro-ministro, gaba-se da sua grande gestão em Lisboa. Mas como presidente de câmara, apesar do perdão de 286M€ consentido pelo governo, a dívida cresceu 44 milhões de euros – só para falar da registada.
António Costa é do velho PS e do novo PS. É de direita e de esquerda. E às vezes do centro. Ele é de tudo e de nada. É um candidato “credível” e de “confiança”? E se tivesse governado Portugal, o país estaria mais próximo do pântano de Guterres ou da bancarrota de Sócrates? Como António Costa gosta de agradar, talvez estivesse a meio caminho, na “pantarrota”. Dia 4, os portugueses darão a resposta e escolherão o caminho.
Escreve à quarta-feira