Coligação choca de frente com lesados do GES e altera planos

Coligação choca de frente com lesados do GES e altera planos


A maratona Portugal à Frente foi obrigada a reagir aos protestos em Marco de Canavezes e em Paços de Ferreira


Passos Coelho e Paulo Portas chocaram hoje de frente com um grupo de lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), em Marco de Canavezes e em Paços de Ferreira. O contacto com a população nestas duas cidades acabou por ficar reduzido a uma curtíssima intervenção dos líderes do PSD e do CDS, que ignorararam os manifestantes com a ajuda da polícia, da segurança pessoal do primeiro-ministro e dos 'jotas' que seguem a caravana de norte a sul. 

O primeiro evento do dia foi em Marco de Canavezes. O protesto do grupo de lesados foi agendado ontem à noite, apurou o i. Alcino Reis, 63 anos, reformado há três, é um dos lesados que veio de Pinhal Novo. Mas há quem tenha vindo de autocarro do Porto. Todos com camisas pretas e palavras de ordem com o primeiro-ministro. E até um megafone. "Estas pessoas já não têm idade nem saúde para que os façam sofrer tanto. É uma questão de bom-senso, educação, respeito. E se fossem os vossos pais?", ouvia-se no megafone. 

Alcino fala numa situação dramática. "Há um senhor que ficou sem nada e família, que era contra o investimento no papel comercial, abandonou-lo", relata. "Há gente que já se suicidou e nós temos ajudados, como podemos, a outros lesados na compra de medicamentos. Há gente que nem dinheiro para medicamentos tem", afirma. "Eu não sabia o que era o papel comercial. Nunca tinha ouvido falar em Rioforte até nos roubarem o dinheiro", acrescenta. 

Enquanto os lesados desabafam, os figurantes da caravana permaneceram na praça. Já Passos e Portas tinham seguido viagem para Felgueiras. Mas o hino da coligação Portugal à Frente continuava a rodar na aparelhagem e a fazer saltar as colunas. "Disseram-nos que havia um comício. Mas agora, com estes aqui (lesados) percebo que já não aconteça nada. Olhe, paciência, ao menos vi o nosso Presidente", rematou uma apoiante de Passos Coelho, o primeiro-ministro candidato à reeleição. 

Horas depois, em Paços de Ferreira, uma gravação anunciava a presença de Passos e Portas no coreto às 16 horas. O jardim á volta do coreto até estava composto. Mas às bandeiras de Portugal, que a PàF passou a usar nas suas acções de campanha, ao lado das bandeiras da própria coligação, juntaram-se bandeiras de tecido negro. Eram outra vez os lesados do papel comercial do GES. Traziam camisas pretas com inscrições a insultar o poder político, nomeadamente Passos e Cavaco Silva. Numa das camisas lia-se a seguinte frase: "O BES é seguro tem uma almofada que garante tudo. (Safamos o nosso e dos amigos). O resto que se exploda". 

Às 16h30 Passos e Portas ainda não tinham chegado. A organização da caravana atrasou a chegada para a reacção à  presença indesejada dos manifestantes. A presença da GNR foi reforçada e o microfone que estava no centro do coreto acabou por não ser usado. O mini-comício (ou cumprimento ao povo) passou para o outro extremo do jardim. O primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro acabaram por discursar numa escadaria, com um megafone. A poucos metros, e isolados por uma barreira humana da GNR, estavam os lesados a atirar criticas e a insultar os dois (ainda) governantes. 

Mas o som produzido pelos manifestantes foram abafados pelas palavras de apoio dos simpatizantes da coligação. "Vitória", "Passos amigo o povo está contigo" e "Já só falta uma semana para a vitória" eram alguns dos gritos entoados, quase em cântico. A ideia era criar uma caixa à volta do primeiro-ministro e do vice-primeiro-ministro para evitar que os manifestantes se aproximassem e, assim, mante-los à margem da campanha.