Como vê o caso Sócrates?
Há dois aspectos. Em primeiro lugar, é um caso político. Um ex-primeiro--ministro preso é um caso político, não é só da justiça. É uma aberração e uma fuga à realidade vir agora o dr. António Costa dizer “à justiça o que é da justiça”. A outra questão é jurídico-política. Qual será o desenlace? No mínimo vai ser acusado, senão isto não fazia sentido nenhum. O julgamento implica uma condenação ou uma absolvição? Se for uma condenação, significa que tudo aquilo que dizemos se comprova, que estes políticos “velhos”, que esta velha estrutura partidocrática é corrupta. Se for absolvido, isso significa que a justiça portuguesa tem de ser reformada de alto a baixo.
{relacionados}
Devia ser um tema de campanha, portanto?
Absolutamente. Porque é que não é? Há temas que são proibidos?
José Sócrates diz-se um preso político…
Isso é uma blague. Não há presos políticos em Portugal, ponto final.
Se o PS vencer as eleições, o próximo parlamento será chamado a votar a adopção por casais do mesmo sexo. Como é que votará?
Não sei, nunca estudei essa questão. O problema dessas questões é que, quando respondemos, somos logo colocados numa das facções… Se tiver de me pronunciar sobre isso, fá–lo-ei segundo a minha consciência.
E o casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Nunca percebi porque é que os casais homossexuais pretendem que à sua união de facto se chame casamento. A mim, que me casei pela Igreja, nos Jerónimos, com passadeira vermelha, numa cerimónia muito católica, muito tradicionalista, causa-me uma certa perplexidade. Porque se há-de chamar a uma união de facto entre um casal homossexual um casamento? São coisas diferentes. Não tenho nenhum preconceito contra a homossexualidade, mas no que diz respeito ao casamento acho que devia ter outro nome.
O PDR é um partido conservador?
Nos valores, é conservador. Não há cá determinado tipo de esquerdices. Defendemos valores, por exemplo, que têm a ver com o conceito de nação, de pátria. Achamos absolutamente incrível que se acabe com o feriado que comemora a nossa independência face aos espanhóis.
Defende a reposição dos feriados?
Pelo menos o do 1.o de Dezembro.
Quem gostaria de ver como próximo Presidente da República?
Falar de presidenciais, só depois das legislativas.
E como próximo ministro da Defesa?
Um militar. Não há um militar no Ministério da Defesa há uns 30 anos.
Que avaliação faz de Aguiar--Branco como ministro da Defesa?
Um zero à esquerda. Ou melhor, um zero à direita. Ninguém gosta dele nas Forças Armadas, nem oficiais, nem sargentos, nem praças. Ninguém. Passa à história como uma nulidade de ministro.
O presidente do seu partido disse uma vez que os eleitos em Portugal não ganham muito. Partilha dessa afirmação?
Aproveito para lhe dizer o seguinte: se for eleito, não aceito um cêntimo da Assembleia da República. Tenho a minha reforma, que é bastante inferior ao ordenado e às mordomias dos deputados, e não quero nada, quero o passe social para contactar os meus eleitores. Vou para a AR com o estatuto remuneratório que tenho agora, não faço como Cavaco ou como a presidente da AR, que optaram pela remuneração mais alta. Aprendi isto com o general Eanes: se as pessoas querem fazer serviço cívico, têm de dar o exemplo.
O PDR tem o discurso muito centrado no combate à corrupção. Na sua opinião há corrupção generalizada em Portugal?
Sim. Não é só corrupção material, corrupção não é só meter a mão na massa. São os interesses, os favores. Se for ver as administrações das empresas onde o Estado ainda tem influência, vê que metade do pessoal é do PS, metade é do PSD e, às vezes, há uns pozinhos do CDS. Dir--me-á: mas são economistas, são financeiros. Mas há milhares em Portugal.