Geração biónica. O homem do futuro é cada vez mais o do presente

Geração biónica. O homem do futuro é cada vez mais o do presente


O que vão os arqueólogos encontrar daqui a 1000 anos, além de ossos, quando quiserem estudar a espécie?


Mohammed Abad tinha apenas seis anos quando foi atropelado e arrastado ao longo de quase 200 metros. Resultado: ficou sem o pénis e sem um dos testículos. Situação com a qual viveu toda a sua vida, até aos 43 anos quando investigadores da Universidade de Londres tornaram possível o sonho do escocês. 

O homem recebeu um implante biónico que lhe dá a possibilidade de, pela primeira vez, ter um órgão sexual funcional. 

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O processo não foi nem simples nem imediato. Durante os últimos três anos, Abad submeteu-se a três cirurgias para fazer reconstrução com enxertos de pele removidos do antebraço, processo que resultou num pénis de cerca de 20 centímetros (maior que a média, portanto). Em entrevista ao jornal “The Sun”, Abad comentou que, para colocar o órgão “em acção”, tem de pressionar o botão de “ligar”, localizado nos testículos, e o mesmo para quando quer desligar. (Esta é a altura em que o leitor solta a maior gargalhada de todas, ao mesmo tempo que lhe ocorrem algumas graçolas sobre o tema.) 

O processo, relatou Abad ao mesmo jornal, acontece em questão de segundos. Ao pressionar o botão, uma bomba na zona da barriga de Abad é activada e pressiona, por sua vez, os fluidos para a erecção acontecer. Mohammed confessou ainda estar ansioso para ter “um encontro, conhecer alguém e ter sexo com essa pessoa”. O seu grande sonho é poder vir a ter filhos. 

Processo mecânico Apesar de a operação ter mudado a vida de Abad e de se ter tornado um assunto mediático, este não é um processo assim tão raro na medicina. À revista “LiveScience”, a médica urologista Elizabeth Kavaler desmistificou o tema. O “pénis biótico”, em termos técnicos, não o é. Trata-se, isso sim, de um implante, usado com frequência em situações de disfunção eréctil, nomeadamente em casos de cancro da próstata, em que a operação pode causar danos pélvicos.

É verdade que pode resolver algumas das funções mas, sendo um processo totalmente mecânico, não responde por si à satisfação sexual, isto é, não ajuda o homem a ter orgasmo e não altera a capacidade de ter sensações sexuais, caso as tenha perdido. Kavaler refere ainda que a probabilidade de Abad, e outros homens com implantes de pénis, engravidarem uma mulher é quase nula, mesmo que ocorra ejaculação, devido à fraca qualidade do esperma. Mesmo assim, Abad garante que a sua vida mudou, sobretudo em termos psicológicos. A imaginação poderá ser a arma poderosa de Mohammed…

Sentidos Larry Hester, um homem de 66 anos, cego durante metade da sua vida, conseguiu voltar a ver graças a um olho biónico. Desenvolvido nos EUA, o implante só (só?) permite distinguir entre o claro e o escuro. Passar da escuridão para a luz é um passo gigante que só quem passa pela cegueira perceberá na plenitude. 

O dispositivo que Larry está a usar desde o ano passado chama-se Argus II, foi criado pela Universidade Duke e desenvolvido pela empresa Second Sight Medical Products. Estes olhos – comercializáveis – funcionam de forma semelhante a um implante coclear (que permite recuperar a audição e foi sendo aperfeiçoado sobretudo desde a década de 80). No caso do implante coclear, o dispositivo electrónico está ligado ao ouvido; no caso do olho, o implante é colocado na retina com 60 eléctrodos que apontam para o nervo óptico.

A luz é detectada por uma câmara que a converte num sinal eléctrico transmitido da retina ao cérebro. O Argus II é projectado para pacientes com degeneração da retina, especialmente os que têm retinite pigmentosa, uma doença genética que afecta 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo e para a qual não existia qualquer tratamento. 

Além da visão e da audição, a ciência também já oferece a possibilidade de pessoas amputadas voltarem a sentir texturas, agarrar em objectos, andar e mexer os braços através de implantes controlados pelo cérebro. 

O dinamarquês Dennis Aabo Sørensen perdeu a mão quando estava a manusear fogo-de-artifício. Passaram-se nove anos desde o acidente, até que o ano passado recebeu uma mão biónica (apenas para testes) que o fez voltar a ter reacções sensoriais como qualquer pessoa. A equipa responsável disse que esta foi a primeira vez em neuroprostética que o feedback sensorial foi restaurado e utilizado por um amputado, em tempo real, para controlar um membro artificial.

O passo seguinte é o aperfeiçoamento, de forma que os pacientes possam sentir os dedos de forma mais precisa, e ainda serão precisos alguns anos até que se traduza na comercialização.