Receitas por regiões – Aveiro, o paraíso dos “ovos-moles”

Receitas por regiões – Aveiro, o paraíso dos “ovos-moles”


 “Ovos-moles”, um dos muitos doces nascidos em ambiente religioso. Em conventos que para além de receberem senhoras por razões de ordem religiosas, recebiam também meninas e senhoras abastadas que não encontravam casamento à altura da sua posição social. 


Aveiro

Com bons dotes e com as suas aias aí entravam e permaneciam. Seriam então as aias que, com todo o tempo do mundo, sensibilidade e ousadia souberam “acasalar” ingredientes de elite com outros de sobra: o açúcar e gemas de ovo, supostamente, as que sobravam das claras utilizadas para engomarem os hábitos das freiras.

Em Aveiro, no convento dominicano de Jesus, fundado no século XV, a receita do doce terá sido preparada com muito empenho e preceito, já que as disputas culinárias eram grandes entre as instituições. Valeu-lhe a distinção entre as demais do mesmo doce e aquando da extinção das ordens religiosas, que deram início à laicização desta e outras receitas.

Para sempre será especialidade reconhecida e iguaria de puro deleite. Assim descreveu Eça de Queiroz em “Os Maias de 1888, quando no capítulo XI o insolente Dâmaso Salsede oferece a Maria Eduarda um embrulho de papel pardo e sentencia: “São seis barrilhinhos de ovos-moles de Aveiro. É um doce muito célebre, 

mesmo lá fora. Só o de Aveiro é que tem chic…”

Ovos Moles de Aveiro

A massa do doce de ovos, embora consistente, é muito cremosa e obtida exclusivamente através de açúcar em ponto e gemas de ovos muito frescos, na sua confeção, não deve ser mexida em círculo (para não ficar estriada), mas aproximando e afastando a colher.

Às gemas de ovos, depois de cuidadosamente desclaradas e misturadas, junta-se cerca de metade do peso de açúcar em ponto, de «estrada» a «bola rija», já frio. Mexendo sempre para o mesmo lado com a colher de pau, evitando os círculos, leva-se ao lume até se ver o fundo da caçarola de cobre.

A “massa de doce de ovos” é comercializada em barricas de madeira pintadas exteriormente com barcos moliceiros e outros motivos da Ria de Aveiro. Também se apresenta em tacinhas de cerâmica e ainda envolvida em hóstia (massa especial de farinha de trigo), moldada nas mais diversas formas de elementos marinhos, como amêijoas, peixes, bateiras, conchas e búzios que podem ser passados por uma calda de açúcar para os tornar opacos e dar mais consistência.

Artigo escrito por Aptece ao abrigo da parceria com o Jornal i.