Momofuku. O nome pode assemelhar-se a “motherfucker” – e aí a escolha também foi intencional –, mas em japonês significa qualquer coisa como pêssego da sorte (lucky peach). Foi este o nome escolhido pelo chefe David Chang para o seu primeiro restaurante em Nova Iorque, o Momofuku Noodle Bar, em 2004. O nome é também uma referência a Momofuku Ando (que morreu em 2007), conhecido por ter inventado o ramen instantâneo, o famoso caldo de massa que começou a estar na moda em Portugal este ano (e em Lisboa pode experimentar-se, por exemplo, no Wasabi, em Campo de Ourique, ou no Nood, no Chiado).
Em Nova Iorque a febre do ramen começou há mais tempo, em grande parte graças a Chang. O chefe chegou a participar em torneios de golfe com Tiger Woods, mas o seu grande interesse sempre foi a cozinha. Trabalhou em restaurantes no Japão (chegou também a dar aulas de inglês a japoneses) e foi aí que se inspirou para os pratos de ramen que começou a servir no Momofuku Noodle Bar.
O restaurante em East Village tornou–se tão popular que dois anos depois Chang abria outro, o Momofuku Ssäm Bar, nas redondezas. Seguiu-se o Momofuku Ko, em 2009, onde hoje em dia uma refeição para duas pessoas pode custar 858,57 dólares (aproximadamente 765 euros), contas da revista “Eater”, com 17 pratos que mudam todas as semanas (e às vezes todos os dias), a maior parte de inspiração asiática.
No site onde se fazem reservas para o restaurante, com no mínimo um mês de antecedência, aconselham os clientes a reservar também o tempo para desfrutar da refeição, que deverá durar “pelo menos duas horas e meia”. Um banquete.
GASTRONOMIA COOL
Agora são 13 os restaurantes da cadeia Momofuku, entre Nova Iorque, Toronto e Sydney (por enquanto nenhum na Europa), e até um espaço, o Milk Bar, dedicado a doces e sobremesas que também tem aulas de cozinha.
Em 2011, David Chang, o criador do império Momofuku, decidiu meter as mãos na massa e juntar-se a Peter Meehan, jornalista do “New York Times”, para fundar uma revista gastronómica cool, com receitas de alguns dos pratos dos restaurantes, ensaios sobre comida, sessões fotográficas, ilustrações e tudo o que lhes viesse à cabeça e tivesse a ver com comida.
O primeiro número da revista, dedicado ao ramen – claro – tornou-se um bestseller do “New York Times” e contou com colaborações de Anthony Bourdain e textos do próprio Chang.
Num deles, “The State of Ramen”, Chang conta como chegou a contratar japoneses no site Craigslist para traduzir receitas de ramen japonesas com ingredientes indecifráveis quando abriu o primeiro restaurante e como “agora o ramen está por todo o lado e sabe todo ao mesmo”. “Já me falaram de um ramen de burrito. E isso será mesmo o fim”, escreve.
O artigo pode ser também lido no site da revista, lançado em Janeiro deste ano, no mesmo mês em que se anunciava um novo e muito aguardado primeiro livro de cozinha da “Lucky Peach”.
FÁCIL NÃO É IRONIA
“101 Easy Asian Recipes”, assim se intitula, vai ser publicado a 27 de Outubro, e é “um livro para ter no balcão da cozinha e não no sofá”, explica Peter Meehan, o autor e editor da revista, à “Eater”.
Pratos com nomes esquisitos como jamuk bap ou okonomiyaki estão ao lado de receitas como a salada chinesa de frango ou os “lamburguers” (hambúrgueres de cordeiro), sem esquecer as receitas de ramen.
Ao contrário do livro sobre a cadeia Momofuku, publicado em 2009 por Peter Meehan e pelo próprio Chang, “101 Asian Recipes” terá receitas mais simples e que se adaptam a qualquer cozinha.
Embora nem sempre tenha sido essa a ideia. “Brincávamos com a ideia de fazer um livro que prometia receitas fáceis mas era mesmo difícil”, conta Meehan. “Ainda tenho a proposta para esse livro, com umas 20 receitas. Mas depois começámos a fazer a revista e conseguimos fazer todas as coisas estúpidas que queríamos e muito mais.”
A maior parte das receitas do livro foram fotografadas no apartamento do próprio Meehan, o que quer dizer que não é preciso uma cozinha industrial para preparar estes pratos.
O facto de Meehan ter sido pai há pouco tempo ajudou também à inspiração, já que “cozinhar rapidamente e bem tornou-se um desafio diário”, conta. Não há ironia quando se diz que estas receitas são fáceis. “A maior parte são pratos de que gosto e que costumamos cozinhar em casa e à medida que fomos preparando o livro o repertório de receitas foi aumentando.”
Nos próximos tempos a “Lucky Peach” deverá lançar mais três livros de cozinha, um dedicado a salsichas, outro sobre vegetais e um, previsto para 2017, com receitas de ovos.