PS. Corbyn não entusiasma socialistas portugueses

PS. Corbyn não entusiasma socialistas portugueses


Candidato é visto como um revivalista que não conseguirá levar trabalhistas ao poder.


A escalada do socialista Jeremy Corbyn nas últimas sondagens para a eleição interna no PartidoTrabalhista tem ecos diferentes dentro doPS. “Eu não votaria neste candidato, traz uma certa perspectiva saudosista e revivalista para um mundo que já não existe.” É assim que o eurodeputado socialista Carlos Zorrinho analisa Corbyn, dizendo que “esta candidatura é uma reacção ao período de TonyBlair dentro do partido”. Ora esse período, que teve três vitórias legislativas – em 1997, 2001 e 2005 –, tem uma apreciação positiva de Zorrinho, embora apresente alguns problemas: “A forma desastrosa como ele misturou a sua agenda interna com questões externas, como a Guerra doIraque, levou-o à perda da sua credibilidade”, diz.

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As propostas “corbynianas”, como a da nacionalização de sectores vitais, levam o eurodeputado a lembrar um ex-presidente francês, François Mitterand. “Mitterrand também nacionalizou alguns desses sectores, mas estamos em pleno séculoXXI, essas propostas têm de ser modernas e viradas para o futuro.”

O ex-director de campanha do PS Ascenso Simões considera que “Corbyn é uma perda de tempo, porque vai afastar uma larga franja do eleitorado que é pró-União Europeia e que não se vai rever nos trabalhistas caso ele vença”. Para o cabeça-de-lista do PS por Vila Real, esta subida nas intenções de voto faz parte de “uma utopia” que Corbyn tem incorporada, e que falta aos outros candidatos. “Os socialistas têm sempre uma dose de utopia e isso, por agora, dá-lhe vantagem.” 

Para Ascenso, a terceira via representada por Blair “morreu enquanto símbolo da Guerra doIraque” e, neste momento, o antigo primeiro-ministro britânico – uma das vozes mais críticas do histórico esquerdista inglês – é “um activo tóxico para o partido”. Para já, Corbyn tem a sorte de “Blair ter falado”, mas Ascenso receia que com este candidato se intensifique a ideia de que o Partido Trabalhista “deixou de querer ser um partido de poder para passar a ser só um partido de protesto”. 
O socialista acredita na vitória do inglês, mas nega que possa conseguir chegar à chefia do governo em 2020: “Tenho amigos meus no partido que acham que vai purificar o aparelho, mais do que uma solução para a conquista do poder.”
O líder da concelhia do PS/Porto,Tiago Barbosa Ribeiro, tem uma visão diferente dos outros dois socialistas.
“O PartidoTrabalhista afastou-se muito do blairismo e parece-me que com este candidato podem ser recuperados valores originários do socialismo.” Esses valores, segundo este socialista, são, entre outros, “a aproximação aos trabalhadores e aos sindicatos”, precisamente posições defendidas por Corbyn nas suas propostas. 

Recusa o “extremismo” com que caracterizam o candidato inglês e responde de olhos postos na Europa: “Extremista tem sido a orientação ortodoxa europeia seguida nos últimos anos, e quanto a mim não há razão para isso em Inglaterra.” 

O PASSADO O “costista” PedroDelgado Alves, que será o director de campanha do candidato presidencialSampaio da Nóvoa, é mais moderado e considera que Corbyn tem “uma vantagem quase inultrapassável porque o seu sucesso assenta na convicção de que só com uma mudança radical é que se poderiam afastar os maus resultados do partido”. Mas para DelgadoAlves, Corbyn “falha ao não reconhecer o legado positivo dos anos de Blair e Gordon Brown”. E por isso tem dúvidas quanto à linha política corbyniana, dando um conselho ao PartidoTrabalhista: “É melhor não deitar fora e apagar os últimos 20 anos, mas fazer o balanço do que precisava de correcção”.