Casas Altas, Casas Juntas, Corte, Corte das Noivas, Corte do Peso, Corte Vidreiros, Cruzes, Curral da Pedra, Montes e Lagares, Morenos, Pocilgais… Santa Catarina da Fonte do Bispo já tem um nome bastante complexo e que nos ajuda a ocupar linhas deste texto, mas vale a pena apontar num caderninho os nomes das terras nas redondezas. Assim, ao Desbarato, que também é o nome de outro lugar para aquelas bandas.
Na busca incessante – e, milagre, quase a chegar ao fim – por Cafés Centrais, algo nos diz que em Santa Catarina da Fonte do Bispo vamos encontrar uma boa fonte para encontrar mais um (estamos naquela fase em que já nem a internet nem as juntas de freguesia nos conseguem ajudar).
“Desculpe, onde fica o Café Central?”, perguntamos ao primeiro carro estacionado. Um turista, claramente vindo de um dos turismos rurais dos arredores e que só não está tão perdido como nós porque não está à procura de um café com esse nome, abana a cabeça. Fazemos outra tentativa, mas desta vez com pai e filho locais a apontarem entusiasticamente para uma porta: “É já ali.”
Bingo. Estamos no Café Central que mais se aproxima da nossa ideia de um Café Central. A porta parece fechada, mas um empurrão com mais força revela que o estabelecimento não só está cheio, como “Era Só Jajão” é uma das escolhas da banda sonora. Estamos no sítio certo, mas infelizmente a actual dona do café, Sílvia Carmo, não é de muitas palavras.
“Não há nada para contar, não me lembro de história nenhuma aqui do café nem da terra”, adverte. “Eles sabem mais coisas que eu sobre isto.”
ELES Isto não vai ser fácil e “eles”, ao balcão e nas mesas a beber minis, também não parecem querer colaborar. Aprendemos apenas que“girar pelos cafés” é um desporto comum por ali e é a isso que se devem estar a dedicar neste momento. “Por isso não há concorrência”, diz Sílvia, quando lhe perguntamos sobre outros cafés.
A dona do Café Central, com a filha a ajudá-la ao balcão e durante o tempo em que conversamos até a corrigir-lhe o português, está ali há 13 anos. Antes trabalhou num supermercado e depois noutro café. “Vim aqui parar por acaso. Despedi-me e este café estava fechado e vim para aqui.”
O café, fundado em 1985 e numa das ruas principais da terra nos arredores de Tavira, pertencia a Diamantino. “Quem é esse?”, pergunta a filha de Sílvia, e o assunto desvia-se para a fisionomia do senhor em questão e para o sítio onde mora.
O PRESIDENTE DA JUNTA De repente, o presidente da junta, o próprio, irrompe estabelecimento adentro.“Este senhor é que tem histórias para contar.” E ficamos na expectativa.
O problema é que o presidente, Carlos Sousa, “57 anos mas espírito de 30”, é um homem ocupado. Ainda temos tempo para dois dedos de conversa, mas à pressa. “Às oito horas vai haver uma caminhada e as pessoas estão à minha espera para marcar o caminho.”
Não queremos deixar mais ninguém perdido, muito menos aqui, e por isso a conversa com Carlos fica para outro dia. Está tudo ocupado em Santa Catarina.
Sílvia, que da antiga decoração do café só mudou o balcão – “porque a vitrina se avariou”– tira cervejas da arca e serve pratos com a “especialidade”, os tremoços.
“Há dias com mais movimento, outros com pouco movimento”, comenta. Quanto aos clientes, “vem do pobre ao rico”. “Já tive figuras da televisão cá”, conta. “Quem, mãe?”, interrompe mais uma vez a filha. “Assim actores, esses que dão nas novelas, já estiveram cá dois ou três.”
O estabelecimento fecha perto das duas da manhã e a essa hora as coisas ainda devem estar mais animadas do que agora. Para fazer tempo e aprender mais sobre a região, o melhor é ir à Wikipedia no telemóvel. “A freguesia de Santa Catarina da Fonte do Bispo data do século xvi. O seu nome tem origem em Catarina de Alexandria, morta no ano 307 d.C. e na Fonte do Bispo, local onde a sua imagem terá aparecido.”
A Fonte do Bispo poderia muito bem ser aqui no Café Central onde toda a gente parece matar a sede na zona e onde até uma Nossa Senhora surge atrás da máquina registadora, como por milagre. Na rádio, a música de Jajão continua a animar o ambiente: “Eu não mereço/ Eu não mereço.”