Violência doméstica mancha mesquita islâmica de Lisboa

Violência doméstica mancha mesquita islâmica de Lisboa


Munir é acusado de ter dado duas cotoveladas na cara da companheira.


Nazira Barakzay, a mulher de David Munir, acusou o líder da Mesquita Islâmica Central de Lisboa de violência doméstica após este lhe ter dado duas cotoveladas no seguimento de uma discussão entre o casal. O episódio ocorreu na passada terça-feira e a mulher chegou mesmo a apresentar uma queixa--crime. 

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De acordo com o “Correio da Manhã”, após o incidente, Nazira Barakzay, uma refugiada do Afeganistão casada com David Munir desde Janeiro de 2014, pediu ajuda a uma amiga que terá chamado as autoridades. A mulher, de 29 anos, foi levada pelo INEM para o hospital por apresentar uma hemorragia e ferimentos no nariz. 

Após a apresentação da queixa, Nazira regressou à mesquita onde, alegadamente, tem dormido no quarto da filha. Como explica ao i Mauro Paulino, psicólogo especialista em questões de violência doméstica, em casos desta natureza é frequente a vítima voltar para o abusador: “Infelizmente, apresentar queixa não significa automaticamente o fim de uma relação abusiva”, considera, acrescentando que são múltiplas as razões que contribuem para a vítima permanecer numa relação violenta, tais como “o medo da solidão, o medo da retaliação, a vergonha, a fidelidade, as barreiras económicas, os padrões religiosos, a baixa auto-estima” ou mesmo o conjugar de todos estes factores. 

De acordo com a queixa, as agressões ocorreram depois de o casal se ter envolvido numa discussão. Nazira Barakzay foi–se deitar e, já na cama, afirma ter sido atingida por David Munir com duas cotoveladas.

O contexto religioso é um dos principais factores a ter em conta neste caso. “Aquilo que a investigação nos mostra é que a tolerância ou censura à violência sofre influência da origem social, cultural, pertença a uma minoria e/ou religião praticada”, afirma Mauro Paulino. A possibilidade de surgirem comportamentos violentos como forma de resolver questões de auto-afirmação “é grande em sociedades que consideram que o homem e os adultos mais fortes devem exercer protecção sobre as mulheres e os mais jovens por estes serem considerados mais frágeis, submissos e dependentes”, conclui o psicólogo. 

o que diz o corão A mulher no islão tem um papel de “sujeição” ao homem. Como explica ao i Moisés Espírito Santo, sociólogo das religiões, “a posição da mulher é a de estar sujeita ao marido e, se não for a este, é ao pai ou ao irmão”. A mulher “não tem autonomia por si mesma” e, no caso de estar casada, “o marido tem praticamente autoridade total sobre ela”. 

Também nos aspectos jurídicos, a posição feminina é desvalorizada. “Um testemunho masculino exige sempre dois de mulher”, refere o sociólogo, dando ainda o exemplo do que se passa em caso de testamento: “A mulher recebe metade daquilo que o homem recebe.” 

A mulher tem, assim, um estatuto de “metade” em relação ao homem. Moisés Espírito Santo afirma ainda que, nesta religião, o marido “tem o direito de bater e castigar” a mulher. No que diz respeito aos filhos, a ideologia mantém-se: “Segundo o islão fundamentalista, os filhos não são da mulher, são do homem”, remata.