Obama anuncia o maior passo de sempre na luta contra o aquecimento global

Obama anuncia o maior passo de sempre na luta contra o aquecimento global


O líder norte-americano quer dar o exemplo no combate à poluição e anunciou planos para cortar um terço das emissões de CO2 do sector eléctrico, o que, a avançar, seria o equivalente a retirar de circulação 70% dos carros nos EUA.


Barack Obama não esconde que se fez tarde para corrigir os erros persistentes do passado no que toca ao colapso ambiental. Mas é sua a iniciatica mais ambiciosa para “travar o espectro do aquecimento global”. Seis anos após ter prometido fazer da maior economia mundial um exemplo, pôs-se a caminho. Falando de uma “obrigação moral” frente “à maior ameaça” para o futuro, anunciou no início da semana cortes de um terço nas emissões de CO2 das centrais que produzem electricidade queimando combustíveis fósseis – carvão ou gás natural.

Até 2030, o presidente norte-americano quer forçar as mil centrais termoeléctricas espalhadas pelo país a baixarem 32% os seus níveis de emissões por comparação com os valores atingidos em 2005. Chama-se Plano para a Electricidade Limpa e incidirá no sector responsável pela produção de um terço do total das emissões nacionais de gases com efeito de estufa. Para que se tenha uma ideia do impacto desta medida, se for por diante – e este é um grande “se” (ver texto ao lado) –, terá um resultado equivalente a retirar de circulação 70% de todos os carros nos EUA.

Embora a medida tenha sido recebida com enorme júbilo pelos ambientalistas, certo é que a forma como a comunidade científica encara o aquecimento global passou de uma estratégia de prevenir os efeitos para remediar – um esforço de adaptação a uma mudança com efeitos dramáticos. “Sendo histórico, à luz das terríveis advertências da comunidade científica, é evidente que não será uma medida suficiente para resolver a crise climática que enfrentamos”, disse Erich Pica, presidente da Friends of the Earth. “Esta medida não é mais que o pagamento de uma prestação da dívida histórica dos EUA pela crise climática.”

Obama referiu que 14 dos 15 anos em que se registaram temperaturas mais altas na história destas medições ocorreram nos primeiros 15 anos deste século. “Somos a primeira geração a sentir o impacto das alterações climáticas e a última que pode fazer alguma coisa quanto a isso”, frisou.

Aposta nas renováveis A esperança da administração é que a iniciativa – o primeiro limite imposto nos EUA sobre a poluição de carbono provocada pelas centrais eléctricas – ajude a persuadir os países que se seguem na lista dos maiores poluidores mundiais a assumirem as metas internacionais na grande conferência sobre a crise climática que vai realizar-se em Paris no mês de Dezembro. “Com a América a assumir a dianteira, os países que são responsáveis por 70% das emissões de carbono já anunciaram planos para combater o problema. Podemos parar isto, mas não há tempo a perder”, disse o presidente democrata.

A Agência de Protecção Ambiental (EPA, na sigla inglesa) publicou a sua proposta final na segunda-feira e o que fez foi definir limites concretos, cabendo a cada um dos governos estaduais trabalhar com os produtores de electricidade para alcançar os objectivos até 2030. Uma versão inicial do programa, divulgada no ano passado, previa cortes ligeiramente menores, de 30%, mas agora foi dado aos estados dois anos adicionais antes de a implementação destes limites se tornar obrigatória. Assim, a cada um caberá decidir o balanço entre o recurso a energias renováveis, a preferência pelo gás natural – menos poluente que o carvão – e outros modelos de ganho de eficiência necessários para cumprir as metas.

Actualmente, mais de dois terços (69%) da electricidade produzida nos EUA dependem dos combustíveis fósseis. O carvão corresponde a 39% e o gás natural a 30%. A proporção que cabe ao carvão deverá cair para 27%. O gás natural ficará na mesma. Estima-se que o investimento total nas renováveis, juntamente com novo equipamento obrigatório para filtrar as emissões de carbono, deverá custar às eléctricas 8,4 mil milhões de dólares (cerca de 7,6 mil milhões de euros), mas a EPA garante que estes serão largamente compensados por benefícios globais para o ambiente, estimados entre 34 e 54 mil milhões de dólares.

Por sua vez, as renováveis deverão ganhar cada vez mais importância, passando a representar 28% da produção eléctrica, quando hoje se ficam pelos 13%. Já o nuclear, que representa actualmente 19%, cairia para 15%, não obstante os planos de construção de novas centrais e de estender a vida útil das existentes.