Meio milhar. É este o número de emigrantes, que regressam todos os meses de Angola, só no sector da construção. O presidente do sindicato, Albano Ribeiro, acredita que o número vai continuar a aumentar enquanto não forem equacionadas medidas. “Há situações de até quatro salários em atraso em Angola e já há trabalhadores que nem lá, nem aqui conseguem sobreviver”, contou à Lusa Albano Ribeiro, adicionando que já solicitou uma audiência com o secretário de Estado das comunidades, José Cesário.
De acordo com o dirigente sindical, a responsabilidade é das “200 e tal empresas que foram à falência em Portugal, deixando mais de 220 milhões de euros de dívidas e que agora estão a fazer isso em Angola a milhares de trabalhadores”
A hipótese de greve ou rescisão de contrato é colocada de parte. “As empresas dizem-lhes que, nesse caso, vão para Portugal pelos seus próprios meios, pagando eles próprios a viagem de avião”, garante o presidente do Sindicato de Construção.
E este não é o único sector que se encontra em colapso. Segundo a Comissão de Mercado de Valores Imobiliários (CMVM), a quebra de exportações para Angola e Brasil pode motivar o regresso de inúmeros trabalhadores de empresas portuguesas a Portugal, pressionando a Segurança Social e comprometendo a recuperação económica.
A descida dos preços do petróleo e a instabilidade geopolítica que se tem reflectido em alguns dos clientes de bens e serviços nacionais, são alguns dos destaques do estudo macroeconómico desenvolvido pela CMVM, que podem acarretar consequências negativas para a economia portuguesa.
Crescimento
O caso de Angola, quarto destino preferencial das exportações portuguesas em 2014, é o mais grave devido à impossibilidade de repatriar capital e à desvalorização do kwanza.
O retorno dos portugueses pode “criar tensões adicionais à Segurança Social e prejudicar a recuperação de uma economia já de si frágil”, dado o ritmo lento da criação de emprego em território nacional. Para os CEO, o maior obstáculo ao crescimento das empresas portuguesas em Angola é a falta de procura, à qual agora se soma a possível diminuição dos lucros.
Regresso
Apesar da situação em Angola, o sindicalista Albano Ribeiro, revela que terão que ser retomadas as obras em curso “porque são muitas pontes, auto-estradas e habitações que foram destruídas na guerra, o que vai criar, ainda, muitos milhares de postos de trabalho”.
A este cenário, o presidente do Sindicato de Construção acrescenta que aqueles que regressarem irão provavelmente ter que voltar a Angola. “Em Portugal não há trabalho e um operário qualificado ganha 545 euros, quando lá ganha no mínimo, 2 mil euros por mês”, explica.
Albano Ribeiro admite também que as empresas portuguesas já se estão a voltar para outros mercados, nomeadamente Moçambique, “onde não têm problemas nenhuns”.