Na noite em que marcou as eleições para 4 de Outubro, o Presidente da República lançou um sério aviso à nação: “Aos problemas económicos e sociais, Portugal não pode dar-se ao luxo de juntar problemas político-partidários”, afirma o Presidente. “Se em 26 países da União Europeia as forças partidárias são capazes de se entender, não é concebível que os nossos agentes políticos sejam incapazes de alcançar compromissos em torno dos grandes objectivos nacionais.” A ameaça de Cavaco Silva de não dar posse, na sequência das próximas legislativas, a um governo minoritário pairou sobre todo o discurso.
O Presidente enumerou as suas variadíssimas razões para rejeitar o cenário de um governo minoritário. “A experiência de 40 anos da nossa democracia demonstra que os governos sem apoio parlamentar maioritário enfrentaram sempre grandes dificuldades para aprovar as medidas constantes dos seus programas, foram atingidos por graves crises políticas e em geral não conseguiram completar a legislatura”, disse.
Para Cavaco, Portugal “na actual conjuntura” não pode correr os riscos da “incerteza sobre o destino de um governo”, da “instabilidade permanente” e da “contínua ameaça da queda do executivo”. “Especialmente no momento que vivemos, um tempo de grande exigência, Portugal necessita de um governo sólido, estável e duradouro”, insiste o Presidente, para quem “alcançar um governo estável é uma tarefa que compete inteiramente às forças partidárias, como se verifica em todas as democracias europeias”.
Cavaco acredita que, “sem condições de estabilidade política e de governabilidade na próxima legislatura”, “será muito difícil alcançar a melhoria do bem-estar a que os nossos cidadãos justamente aspiram”. “Após os sacrifícios que fizeram, os portugueses têm o direito, mas também o dever, de exigir um governo estável e duradouro, que seja capaz de prosseguir uma política que traga mais riqueza e mais justiça social ao nosso país.”
Eliminação de sacrifícios Cavaco Silva lembrou que “de acordo com a legislação europeia o país continua sujeito a regras muito exigentes de disciplina financeira e de supervisão das suas políticas económicas”, disse ser “essencial assegurar o equilíbrio das contas do Estado, a redução do endividamento externo e o reforço da competitividade da economia”. E apelou a “vencer” estes “desafios para conseguirmos promover o crescimento da economia e a criação de emprego”.
Cavaco Silva referiu-se mesmo a uma “eliminação de sacrifícios que ainda impendem sobre muitos portugueses e a melhoria das condições de vida do nosso povo”.
O PS até gostou de ouvir o PR. “As eleições ganharam uma nova dimensão, uma vez que o Presidente da República entende que nós precisamos de uma maioria absoluta”, disse à Lusa Ascenso Simões, director da campanha socialista. “É para isso que o PS está a trabalhar.”