A sinceridade de Marcelo


Como ilustre figura do PSD, Marcelo acredita ter garantidos os votos do eleitorado de direita. Ao criticar o governo, agrada aos insatisfeitos (que são muitos) e espera porventura conseguir conquistar eleitores à esquerda.


© Andre Kosters/Lusa

Ao longo destes últimos anos, Marcelo Rebelo de Sousa tem prestado um serviço inestimável aos telespectadores portugueses. Com a sua inteligência aguçada, simpatia e sentido pedagógico, ajuda a decifrar os acontecimentos complexos que se passam no país e no mundo. O seu comentário semanal é um caso de sucesso estrondoso e Marcelo tornou-se quase um membro da família que visita as casas dos portugueses uma vez por semana. Essa notoriedade televisiva coloca-o na pole position da corrida à Presidência.

Mas, com o diz o ditado, “pela boca morre o peixe” e, a partir do momento em que começou a ponderar uma eventual candidatura, Marcelo percebeu que teria de ter muito cuidado com o que diz. O palco semanal, em vez de uma vantagem, poderia tornar-se um handicap e uma dor de cabeça.

Recentemente, vimo-lo a solidarizar-se com os gregos durante as negociações com os credores, parecendo mais próximo da linha do Syriza do que dos parceiros europeus, e a criticar duramente o governo de Passos. O que terá levado o professor a assumir estas posições aparentemente contraditórias com as convicções da sua família política?
Penso que há uma explicação simples para isso. Como ilustre figura do PSD, Marcelo acredita ter garantidos os votos do eleitorado de direita. Ao criticar o governo, agrada aos insatisfeitos (que são muitos) e espera porventura conseguir conquistar eleitores à esquerda, o que lhe permitiria fazer o pleno e obter uma vitória confortável nas presidenciais.

Mas há um perigo que Marcelo talvez não esteja a acautelar. Se, por algum momento, o comentador não for fiel às suas convicções e os telespectadores se aperceberem disso, o calculismo poderá sair-lhe caro. É aquilo a que se chama, em bom português, virar-se o feitiço contra o feiticeiro.

jose.c.saraiva@ionline.pt

A sinceridade de Marcelo


Como ilustre figura do PSD, Marcelo acredita ter garantidos os votos do eleitorado de direita. Ao criticar o governo, agrada aos insatisfeitos (que são muitos) e espera porventura conseguir conquistar eleitores à esquerda.


© Andre Kosters/Lusa

Ao longo destes últimos anos, Marcelo Rebelo de Sousa tem prestado um serviço inestimável aos telespectadores portugueses. Com a sua inteligência aguçada, simpatia e sentido pedagógico, ajuda a decifrar os acontecimentos complexos que se passam no país e no mundo. O seu comentário semanal é um caso de sucesso estrondoso e Marcelo tornou-se quase um membro da família que visita as casas dos portugueses uma vez por semana. Essa notoriedade televisiva coloca-o na pole position da corrida à Presidência.

Mas, com o diz o ditado, “pela boca morre o peixe” e, a partir do momento em que começou a ponderar uma eventual candidatura, Marcelo percebeu que teria de ter muito cuidado com o que diz. O palco semanal, em vez de uma vantagem, poderia tornar-se um handicap e uma dor de cabeça.

Recentemente, vimo-lo a solidarizar-se com os gregos durante as negociações com os credores, parecendo mais próximo da linha do Syriza do que dos parceiros europeus, e a criticar duramente o governo de Passos. O que terá levado o professor a assumir estas posições aparentemente contraditórias com as convicções da sua família política?
Penso que há uma explicação simples para isso. Como ilustre figura do PSD, Marcelo acredita ter garantidos os votos do eleitorado de direita. Ao criticar o governo, agrada aos insatisfeitos (que são muitos) e espera porventura conseguir conquistar eleitores à esquerda, o que lhe permitiria fazer o pleno e obter uma vitória confortável nas presidenciais.

Mas há um perigo que Marcelo talvez não esteja a acautelar. Se, por algum momento, o comentador não for fiel às suas convicções e os telespectadores se aperceberem disso, o calculismo poderá sair-lhe caro. É aquilo a que se chama, em bom português, virar-se o feitiço contra o feiticeiro.

jose.c.saraiva@ionline.pt